MINHA PRIMEIRA BICICLETA.

Deitado na cama, tentando repousar após vinte e quatro horas da cirurgia de implante dentário à qual me submeti ( dentista se submetendo a implante dentário??? Foi o único dente permanente que perdi nos meus quase quarenta e nove anos!!! Num país onde a maioria da população é de desdentados, é uma proeza! ).

Mas isso não vem ao caso agora. A minha história aqui é outra. Continuando.... deitado na cama, pensando que estamos na ante-véspera do dia das crianças, e lembrando que ainda terei que comprar o presente do meu neto Dieguinho, que mesmo aos seis anos já está mais para Diegão. Tendo ainda que resolver em minha cabeça a problemática de sair assim de rosto inchado, para comprar a bicicleta que ele tanto aguarda, preciso dar um jeito!

Pensando na bicicleta a minha mente divagou e foi longe.... lembrei-me da minha primeira bicicleta. Ganhei-a por volta dos meus onze anos de idade.

Àquela época poucas lojas em Maceió vendiam bicicletas, e nas que vendiam, o preço era bem salgado.

Meu pai havia resolvido me presentear com uma magrela, e decidira que iria a Recife comprá-la, pois, além do grande sortimento de produtos e variedade de lojas, o preço era bem convidativo, compensando os gastos da viagem. Imaginem!

Aquela propaganda de uma conhecida loja daqui de Maceió ainda não estava valendo: "se no Recife tem, na Casa do Colegial também tem!".

Então, fomos, eu, meu pai e minha irmã, em um Corcel I duas portas, apertadinho. Saimos de manhã bem cedinho e lá pelas dez horas chegamos em Recife. Nos dirigimos direto para o centro da cidade e com pouco tempo já havíamos comprado a tão desejada mercadoria, e eu já babava na minha Monarêta vermelha dentro do carro!

Antes de voltarmos fomos almoçar um galêto num restaurante tradicional da cidade, e depois empreendemos a viagem de volta.

Foi um dia bastante cansativo para nós, e meu pai que foi não foi era acometido por fortes enchaquecas, não escapou de mais uma. O calor da estrada, o almoço engolido às pressas misturado com a cervejinha gelada fizeram um parrapapá tão grande em seu estômago, que não deu outra! Antes de chegarmos em casa ele já não se aguentava de dor de cabeça e vontade de vomitar. Foi obrigado a parar o carro alí onde era o IBDF, hoje IBAMA, em frente ao Hiper Bomprêço.

Tivemos que esperar por mais de uma hora para que ele melhorasse um pouco. E não adiantaram os meus oferecimentos para dirigir o carro até a nossa casa (onze anos, imaginem! Mal alcançava os pedais do carro!).

E foi assim que começou a minha história de ciclista amador.

Nas férias escolares, eu e uma turma de amigos acordávamos bem cedinho para andar de bicicleta pelas ruas de terra do Trapiche. Era uma festa! Ninguém reclamava por acordar tão cedo!

Os passeios duraram por vários anos, até que num trágico dia, um amigo e vizinho, Gilvan, se dirigindo de bicicleta junto com outros colegas,de casa para a praia a fim de ver o navio HOPE, que estava aportando em nossa cidade, foi colhido e morto por um automóvel que dirigido por um motorista embriagado, trafegava em alta velocidade.

Foi uma grande tristeza para todos nós, e os nossos passeios não tiveram mais razão de ser.

Hoje lembrando daqueles remotos dias, sinto muitas saudades dos amigos e das brincadeiras.

Voltei a pedalar recentemente, incentivado pela onda de ciclistas que formam grupos para pedalar em Maceió e adjacências.

Espero que o Dieguinho possa ter histórias para contar, principalmente da bicicleta que ganhou do vovô. Mas os tempos são outros e hoje os meninos brincam nos "play".

Também tenho a vantagem de não precisar ir ao Recife para comprar a bicicleta.

Mesmo com o rosto inchado, em meia hora resolvo tudo, e espero fazer a alegria do meu neto, que é filho do coração!

Pedala Diegão!