Sabedoria

A vida realmente é fascinante.

Dois homens, extremamente distintos entre si, estavam a fazer aulas em uma pequena escola de informática.

Um era jovem ainda, não aparentava mais do que uns vinte e cinco, vinte e sete anos. Provavelmente não era casado nem noivo, pois não usava aliança alguma em nenhuma das mãos. Andava sempre bem vestido, com calças de brim sempre bem lavadas, blusas com gola e botão, mesmo que apenas na área do pescoço, e sapatos.

O outro já era mais vivido, mais experiente da vida. Já não tinha o físico tão produtivo, os cabelos começavam a se mostrar grisalhos, era casado, tinha uma filha, e já estava aposentado. Gostava de andar confortavelmente, com um jeans mais surrado, chinelos e camisas de malha.

Aparentemente, o jovem e o senhor não tinham nada em comum. Um começava a viver as dificuldades da vida agora, e o outro já havia participado de todas as batalhas que precisava, e agora bastava descansar. Mas eles tinham algo em comum: ambos, como toda a sua diferença, desconheciam um conforto comum dos dias atuais, a informática.

O mais velho, homem já formado, era bastante experiente em matéria de aprendizado: havia trabalhado em muitos lugares, participado de vários cursos técnicos, oficinas, workshops, palestras, mini-cursos... era uma pessoa experiente, profissional.

O mais jovem, no entanto, não partilhava da mesma sorte. Seu grau de estudo era apenas até a quarta série do ensino fundamental, não havia trabalhado em tantos lugares assim, e não tinha tempo para se dedicar a qualquer tipo de atividade não remunerada ou paga.

No entanto, com tanta diferença entre si, lá estavam ambos, juntos, um ao lado do outro, com o mesmo nível de dúvidas, dificuldades, problemas. Um poderia ter se mostrado melhor que o outro, mas não foi o que aconteceu. Eles estavam lá, juntos, como se fosse a época da escola, em que deveriam absorver todo o conhecimento que puderem.

Duas pessoas, tão distintas, tão diferentes entre si... e tão semelhantes em um ponto: ambos desconheciam algo. Não haviam vivido tempo o suficiente para aprender, e todo o tempo em que viveram não tiveram a oportunidade de aprender.

Todos os dias da vida, novas lições aparecem diante do caminho. Não importa se a pessoa seja jovem, criança, idosa, adulta. O importante é que a vida concede essas lições. Todas as pessoas, independente de como estão, de se conhecerem, de se amarem, de se odiarem, de serem extremamente diferentes uma da outra, estão juntas no propósito maior da vida.

Com que direito alguém pode se julgar mais sábia ou mais burra que alguém? O que mede a capacidade de inteligência de alguém?

A pessoa à esquerda, pode ter um talento incrível para a matemática, uma inteligência extraordinária para calculose raciocínios numéricos, mas, no entanto, nem mesmo chega perto da pessoa à direita, que é um exímio poeta, conhecedor de várias palavras, com a habilidade de reuni-las em fantásticos poemas, mas incapaz de resolver uma simples conta sem a calculadora.

Agradeça, portanto, de ter a sabedoria de que necessita, o conhecimento que lhe é útil, e saiba emprega-lo bem, sem menosprezar o conhecimento alheio.

Pode o médico ser mais inteligente, mas ainda sim precisa do engenheiro para planejar sua casa. Pode ser o engenheiro mais inteligente, mas ainda sim ele precisa do pedreiro para construí-la. Pode ser o pedreiro mais inteligente, mas ele precisa do médico para curar-lhe as enfermidades.

Não há, portanto, no mundo, alguém que seja inteligente o suficiente para conhecer tudo o que possa ser ensinado, e ninguém tão burro que não possa ensinar algo para alguém.

A sabedoria é a capacidade de transformar para melhor tudo o que nos roda com o conhecimento que se tem. É a coragem de saber qual caminho seguir, e continuar nele mesmo que pareça errado. É ter medo, mas ser capaz de enfrenta-lo, para superar obstáculos. É ser humilde para reconhecer que ainda tem muito a se aprender.

Eduardo Setzer Henrique
Enviado por Eduardo Setzer Henrique em 03/10/2006
Código do texto: T255389