Chi-Lê! Chi, chi, chi, lê, lê, lê! Chile!

Sentei para escrever a coluna semanal e muitas idéias passaram por minha cabeça. Lembrei das pessoas que passaram hoje por mim, geralmente elas me dão ganchos e laboratórios para minhas divagações semanais; a moça que me falou de sua mágoa e da dificuldade em perdoar; as fofocas dos adolescentes de um bairro; os contatos para agilizar os depoimentos sobre a senhora do aborto; o telefonema da amiga desesperada para terminar seu desastroso casamento; o vídeo da minha neta Diana conhecendo a praia pela primeira vez (e nem comeu areia); uma senhora que me descreveu seu calvário com a vizinha do balacobaco, (sem palavras), discórdia total e irrestrita e do comentário que ela me fez : “ pois é, essa mulher em vez de ter ido na romaria rezar pelos mineiros do Chile, ficou me infernizando a vida, jogando limões em meu telhado e pedras no meu carro”!

Os mineiros do Chile! Como não pensar neles? Como não lembrar deles? Me pego todo instante a lembrar do chavão : “ Chi – Lê! Chi, chi, chi, le, le, le ! Chile “ !

O Chile, esse país da América do Sul, América dos Cucarachos , é assim que nos chamam os filhos do Tio Sam e os ianques. Cucarachos.

A nobreza de um homem chamado Manuel Gonzalez que corajosamente foi o primeiro a descer até á mina. Descer! Acompanhei sua descida e chorei o tempo todo. Chorei copiosamente quando subiu o primeiro mineiro. Agradeci a Deus. Assim como fizeram milhões de pessoas que acompanhavam aquele momento. Deus. Que bom que você existe.

O mundo assistiu atônito ao resgate dos mineiros do deserto de Atacama. Um país que vive quase que exclusivamente da mineração do cobre e do ouro. Um país que se preocupou, lutou e gastou (20 milhões de dólares) para resgatar seus cidadãos. Trinta e três mineiros! Na China vemos centenas de chineses serem soterrados. Mais de setecentos metros debaixo da terra, enterrados vivos.

Um mineiro que traz pedras de souvenirs e que mal sai do buraco da mina, corre para a multidão e grita: Chi-Le! Chi, chi, chi, lê, lê, lê. Enrolados na bandeira nacional, com balões do país, camisetas e botons, de mãos dadas a multidão canta o hino nacional do Chile. Uma demonstração de fé. De lealdade. De amor à sua pátria. Civismo.

E por último, mas não nessa ordem de importância, lembrei daquele presidente, fiel, incansável, afetuoso e cheio de abraços fraternos e emotivos. O presidente do Chile. Ele e sua esposa. Em pé, junto ao buraco da escavação, distribuindo sorrisos, juntando as mãos em oração. Inabaláveis. Somente uma palavra justifica aquelas posturas: fé.

Lembrei do nosso operário presidente Nunca sei de Nada e de sua candidata Nunca antes neste País, lembrei, por um instante, da piada do Osvaldo, aquele compadre que dentro do armário assiste a traição de sua esposa com o compadre Osvaldo e quando ela tira a roupa e cai toda a “ babadeira” organizada dentro do jeans, exclama: ai, meu Deus, que vergonha do Osvaldo!

Ai, meu Deus, que vergonha do Chile!

Presidente Sebastian, esse sim, esse é o cara!

Rejane Savegnago
Enviado por Rejane Savegnago em 16/10/2010
Código do texto: T2560968