E SE EU DER SORTE?

O Baltazar é um desses sujeitos com quem a vida tem sido generosa. Culpa dele que sempre busca, pelo que se vê, trilhar caminhos que levam a uma vida agradável.

Casado, há mais de uma década, filhos bem educados, esposa inteligente, bela, dedicada ao marido, à família, ao trabalho, enfim, mulher de não se encontrar muitas no mercado.

Baltazar casou tarde, dizem muitos. Foi lá pelos quarenta que o homem saiu de sua rotina de contumaz trocador de companheiras para se aquietar nas lides domésticas. Nunca foi galinha, mas emendava a próxima na anterior, com um pequeno intervalo em que andou com as duas. Quando mais descontraído, após um vinho (agora só toma vinho), comenta que não passaram de três ou quatro por ano. Contudo, para quem passou quase três décadas trocando, o conjunto da obra não é de se desprezar.

Ultimamente, vive outra vida. Os filhos, pequenos ainda, oito um, dez a outra, tornaram Baltazar muito mais responsável. Culpa das crias que “mulher a gente troca, filhos não”. Por mais linda que seja a possibilidade não dá chance ao azar. Tornou-se um brincalhão com as possibilidades. Quando vislumbra uma interessada trata logo de ir anunciando, sorrindo para não parecer grosseiro: - linda que nem tu, só dá encrenca.

Quem o conhece sabe que não troca a esposa por nenhuma outra mas, ao natural, o homem é um gentleman e, neste universo de mulheres maltratadas, não são poucas as que dizem às amigas, lançando suspiros, “é o que falta lá em casa!”.

Continua admirando as paisagens, peitos e bundas são as preferidas. E como se diz por aqui, cachorro comedor de ovelha só matando, não são raros os momentos em que Baltazar observa, quase num suspiro, “como era bom”. Só bota chifre na mulher em pensamento e doze anos depois do início do namoro, ultimamente tem pensado muito, mas treme na base só de imaginar um problema em casa.

Dia desses, topou com a Guilhermina, mulher de não se botar defeito, uma daquelas que, nem precisa concorrer à miss, é um universo em todo encanto. Chegou-se ao grupo onde estava o Baltazar segura da sua beleza e nem parecia que se dava conta dela. Que sorriso! Que balanço! Que simpatia! Cada coisa que Baltazar identificava vinha acompanhada de uma exclamação.

Pensou em se apresentar disponível, pensou em casa, na esposa, nos filhos, na vida pacata mas agradabilíssima dos últimos anos, na possibilidade de uma empreitada bem sucedida, e comentou com um amigo:

- E se hoje eu dou sorte? Que azar!