O CIBERESPAÇO X O CONTATO FÍSICO

O CIBERESPAÇO X O CONTATO FÍSICO

Hoje estava lendo um texto de David Lê Breton (Adeus ao corpo) que trata do ciberespaço, um território mágico onde tudo é permitido, nele não existe identidade, somos o que desejamos ser.

Dentro desse reino da liberdade sou e não sou ao mesmo tempo. As limitações que o mundo físico me impõe não existem. Posso voar; andar e correr de um segundo para o outro em diferentes partes do planeta. Não possuo passado nem futuro, consigo ser onipresente e onipotente e é nesse fantástico universo do ilimitado, que hoje milhares de seres humanos sonham em viver. Nossas crianças, jovens e porque, também não dizer, uma vasta gama de adultos, passa muita das 24hs do dia conectados ao ciberespaço. São super-heróis na literal concepção da identidade oculta; rostos protegidos por máscaras que fogem de um encontro marcado com o real. O corpo torna-se um invólucro incômodo da força imaginativa.

Por que arriscar decepcionar a fantasia do outro e a minha, com um contato físico, se posso ser o objeto de desejo infalível? É pedir demais para o ser humano que tem como meta a felicidade plena. Porém, diante de apelos tão atraentes, me veio um forte questionamento : COMO VIVER SEM O CONTATO FÍSICO? Aquela coisa do olho no olho; de química de pele; do cheiro do outro que nos impregna; do entrelaçar das mãos que nos faz sentirem seguros; do abraço que aquece e dá vida; do beijo que desperta sensações... Isso! SENTIR O OUTRO, eis o ponto neuvrargico da questão. No ciberespaço o outro é uma construção dos meus mais inatingíveis desejos de perfeição, lá não preciso exercer a aceitação do diferente; do imperfeito; da impermanência da vida; da fabilidade de tudo que um dia foi criado, inclusive da máquina que nos conecta a essa magia. As sensações que vivencio não provêm do outro real e sim, de uma imagem pré-concebida.

Quando questiono sobre o sentir o outro, me refiro a ampla forma de sua significação: A experienciação de ser um “eu” que compartilha com um outro “eu” sua alteridade, numa co-relação onde mutuamente construo e sou construído. Nesse processo de construção estou exposta às alegrias e tristezas da vida, sem “clicks” deterministas que possam me manter incólume. Um sentido que dá prazer e dor e que só posso tê-lo através do contato físico.

Assim, me deparo com a insubstituível presença do meu corpo, essa complexa teia de terminações nervosas que se ligam em milhares de sinapses nos avisando da aproximação do outro, nos deixando alertas, prontos para amar ou odiar, e nada no ciberespaço substitui, essa, que é a mais fantástica das criações.

Iakissodara Capibaribe.

IAKISSODARA CAPIBARIBE
Enviado por IAKISSODARA CAPIBARIBE em 04/10/2006
Código do texto: T256346