HEY MA DURGA: EPARREI!

Outra gripe! Sou esponja de vírus. Desde que tomei a vacina contra a gripe suína, vou pegando tudo que é gripe sãopaulina. Resisto, luto; sei que o melhor remédio é vitamina C e... mantra.

Queria a cama, mas Auri insistiu: " vamos nesse espaço que inaugurou faz alguns meses. Eles terão um evento com dança e mantras para as Mães Divinas. Vamos?"

Fomos!

O corpo doia, a voz estava quase sumindo, mas bastou entrar naquele lugar para eu começar a me sentir melhor. O Espaço Luzeiro fica numa casa no bairro da Aclimação, em Sampa, ao lado do Parque de mesmo nome, não tão longe de casa; o cheiro do incenso e a atmosfera de paz do lugar acalmou os meus nervos e foi pouco a pouco diminuindo minha vontade de em casa estar.

O evento começou e fomos embalados pelo som da música indiana e pela dança das meninas, que deixavam bem claro, nem precisa ir pra India ; já fui! E posso dizer que já ví muito mais coisa bonita representando a cultura indiana por aqui mesmo. Então, logo depois, começaram os mantras para as Mães Divinas:

Sarasvati, a deusa hindu da sabedoria, das artes e da música;

Lakshmi, a deusa da beleza, da fartura e da prosperidade;

Parvati, a deusa do contentamento, do prazer, da alegria, do amor, e da disciplina interior; que também é representada em outras duas faces: Durga ( a guerreira protetora de lei e da ordem - o Dharma - e a destruidora do mal) e Kali (a temida).

Em meio ao canto devocional para Parvati e sua forma mais guerreira, Durga, fechei os olhos e ví essa mulher em cima de um tigre, com seus quatro braços e símbolos tipicamente indiano, e sai do protocolo, alterei a linha, e vi a imagem da deusa Hindú ir se transformando pouco a pouco em Iansã, a guerreira africana, cultuada pelo Candomblé e pela Umbanda. Ao ver a imagem das duas deusas se misturando, eu já não sabia se cantava para Durga ou se cantava para Iansã, e em meio ao "Hey Ma Durga" e o "Eparrei, Iansã!", a imagem novamente se transformou e vi Joana D'Arc na França; Hatshepsut, a primeira Faraó do Egito; a Rainha de Sabá do Oriente Médio e outras tantas mulheres na história, que mesmo em tempos de guerra e cólera, mostraram suas espadas e lutaram por suas causas. Vi também minha esposa, minha mãe e a minha irmã, e outros tantas mulheres fortes que passaram pela minha vida. E quando o mantra acabou, percebi que ficou no ar, um sentimento do mais profundo agradecimento a essas mulheres.

Tudo aquilo parecia uma grande viagem, um delírio, talvez fosse, não duvido; porém, dei-me conta que ao cantar para Durga, estava também cantando para todas essas mulheres guerreiras, que não vivem à sombra dos homens, nem por isso, são menos femininas.

Mulheres de mil faces, de mil qualidades que todos os homens deveriam aprender a respeitar.

Frank Oliveira

http://cronicasdofrank.blogspot.com/