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   Ensaio de vôo ainda do ninho ao chão.  Elogios alheios exagerados...  Falta-te mais desprendimento, dedicação, intensidade.  Aproveita mais tua inspiração, teu potencial.  Carecem teus poemas de algo como... forma perfeita e intensidade confessional.
          Transforma essa dor, essa alegria, esse amor, esse ódio, essa revolta, essa mágoa, essa treva em uma única e gigantesca tocha, que nos ilumine --- que para isto escreves, certo?: iluminar-nos e receber os reflexos dessa iluminação, sob a forma de comentários.
          Aliás, os comentários nada mais refletem que lenços imaculados, que piedosos consolos.  Recusa tais sentimentos vazios.  Exige mais respeito literário. 
          Todo mundo te elogia ou consola, triste sofredora solitária que te apresentas.  Discordo dessa atitude paternal, antiliterária dos colegas.  Tens que ser confrontada com a covardia que demonstras ao negociar com as palavras, todas (mal) medidas e pesadas. 
      
As palavras que usaste devem estar morrendo de vergonha, ofendidas pela infeliz escolha.
      "Onde os carrascos?!" --- indagam elas, loucas para se livrarem logo de ti, que as afagas com demasiada displicência e brandura.  E completam:
     
"Sem crueldade não trabalhamos. Braços (letras) cruzados.  Sofrimento já!"
     Tão cândidas quão sádicas, contrárias à menor doçura lírica, elas se extasiam quando esmagadas, acorrentadas e olvidadas para sempre nos sombrios subterrâneos da criação literária.  Isto porque adivinham que a sua luz verbal escapará em triunfo, liberta, azul, em cada céu humano...

          Lembra-te de que em breve eu, tu e toda essa geração passaremos, findaremos, e virá outra, e outra... Se queres ser lida e estudada por essas ‘outras’, trata de te dilacerares verbalmente, criatura! 
          Creio porém que, fugindo às costumeiras exclamações de quem borboleteia superficialmente sobre os textos, preferi a autenticidade e o exame profundo de alguns trabalhos apenas.  Livrei-te assim de cândidas e levianas afirmações dos eternos adoradores de plantão, como:
 
“Oh mas que beleza, poetisa!!”
“Gostei do seu versejar. Visite-me!”
“Lindo lindo! Adorei...”
"Grande talento!"
"Mas que beleza!"
"Gente, que lindo!"
"Gostei, ou melhor, adorei!!"
Jô do Recanto das Letras
Enviado por Jô do Recanto das Letras em 23/10/2010
Reeditado em 21/01/2011
Código do texto: T2574735
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