BLITZ NO TRÂNSITO !

Podemos discutir a noite toda - bebericando -, sem chegar a nenhum acordo. A polícia diz que faz blitz para fiscalizar carro e chofer, seguindo uma estratégia profissional. Para os motoristas é armação, porque os locais escolhidos são impróprios e não permitem qualquer chance de fuga! Em Bom Despacho temos este transtorno multiplicado por mil! Aqui está o Quartel do Sétimo Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais; no seu curso de PM os recrutas saem às ruas em treinamento e nós viramos cobaias. Mas se é para o bem dos conterrâneos e felicidade geral da cidade...

Alguns policiais exageram no zelo ao conferir documentos, triângulo, pneus... Acesos faróis, luz de alarme, setas - meu Santana velho-de-guerra parecia disco voador! -, o recruta quis ver o extintor de incêndio. Seja honesto, leitor: você sabe onde fica o do seu carro? Abri o porta-malas torcendo para que ele fosse vizinho do sobressalente. Nada! Levantei o capô imaginando que ficasse ao lado da bateria. Neca! Ao jogar a segunda-via da multa no porta-luvas, descobri o inútil acessório escondido sob o banco.

O Nego da Zoca, com mais de oitenta invernos na cacunda, ia do centro para o bairro do Quenta-sol dirigindo seu fitinho 147, quando caiu no que ele chama de “brita”. O PM solicitou a documentação do carango - mais precisado de lanternagem que seu proprietário! Até Deus ignora o paradeiro dela! Camarada, o soldado pediu ao Nego que apresentasse a Carteira de Motorista. Com seu jeito de chofer de carro de boi, sem a respectiva à mão, entregou-se: - Sô Guarda, carteira até que eu tenho, mas não tá aqui não. O sujeito que me vendeu ela falou pra mode não mostrar pra ninguém! Ocioso é dizer onde o Nego da Zoca e seu fitinho foram estacionar.

Caso parecido, mas com final diferente, aconteceu com o Pipoca - mecânico. Depois de prestar socorro a caminhão enguiçado na BR-262, voltava para Bom Despacho ao lusco-fusco quando viu um senhor de idade, à beira da rodovia. Generoso de coração, viajando sozinho, parou e ofereceu carona. O velho disse que gostaria de aceitar, e ficava agradecido, mas não estava sozinho, havia um cachorro. O bom samaritano imaginou tratar-se de cachorrinho de madame, e se dispôs a trazer os dois. Foi o homem gritar: “Capitão, vem cá!” - e uma moita de bambu amarelo, grosso, balançou-se toda e de lá saiu um animal regulando com bezerro desmamado. Era o Capitão! Assustado com o tamanho do bicho e já arrependido pela carona, o mecânico fez aquela perguntinha imbecil: - Ele morde? O dono afirmou que o cachorro era manso; só não gostava de escuro. Na hora o Pipoca acendeu a luz de teto do carro!

Mal pegaram a estrada - caroneiros atrás - o chofer sentiu o focinho da fera no cangote. De novo, o desconhecido empenhou a palavra: - O Capitão tá só dando uns arrotos, pois enjoa com cheiro de gasolina! “Se este monstro vomitar em mim...” - gemeu o Pipoca, intimamente. Para descontrair perguntou o quê o animal vinha fazer na cidade. O velho foi honesto: - Ele tá comendo os ovos das galinhas lá de casa! Vou soltar o comilão perto duma granja! No trevo, à entrada de Bom Despacho, uma blitz policial parava até bicicleta. Então o mecânico descobriu que, no afã de prestar socorro, esquecera a carteira de motorista. O guarda que sinalizara para ele encostar, impressionado com o cãozarrão, em vez de documentos perguntou pelo nome da fera. Ao ouvir - Capitão - de bom humor fez ‘legal’ com o polegar e batendo continência mandou a caravana seguir.

dilermando cardoso
Enviado por dilermando cardoso em 01/11/2010
Reeditado em 02/03/2011
Código do texto: T2589771