Foras cotidianos. ''Conhecendo os sogros''.

Quem nunca deu um fora casual? Daqueles que cinco milesimos de segundo após falaramos, percebemos a grandiosa indiscrição desproposital que cometemos.

Aquelas em que o silencio até grita, e o tempo corre em camera lenta para que possamos desfrutar orgulhosos de nosso proprio constrangimento pleno e absoluto.

''Nossa, não acredito que disse isso!'' é pensamento constante do infrator que perde excelente oportunidade de ficar quieto.

Ao percorrer minha falida memória, lembro-me do maior de meus foras quando certa vez em minha juventude ,após um curto namoro de um mês, fui conhecer os duros pais de minha pretendida; preparado para qualquer imprevisto que pudesse comprometer minha imagem, almocei com atenção redobrada disposto a causar boa impressão como homem e como namorado vislumbrando um futuro promissor para o namorico; Até que lá pela tantas, em momento de ''distração espiritual''no sofisticado restaurante italiano que meus sogros me levaram, desviei minha atenção e olhar por longos cinco segundos para uma belissima moça, que adentrava o estabelecimento e parecia vir de encontro a nossa mesa, me olhando e sorrindo.

Por um instante ''viajei'' em seus encantos e ao perceber que minha possivel gafe pudesse estar sendo observada por alguem da mesa, me recompus antes da possivel tragédia e disfarcei rapidamente voltando os olhos a mesa e a atençao ao assunto que todos falavam; tarde demais, da boca da minha namoradinha sai imediatamente a pior coisa que um culpado moral poderia ouvir naquele momento:''ela é linda não é Bruno'' diz minha bela Carol munida de um suspeito sorriso, sob os olhos complacentes e criticos de seus pais.

Milhões de pensamentos instintivos de péssimas desculpas vieram na hora, até mesmo as idéia de revelar um problema de estrabismo ou simplesmente sair correndo passaram por minha cabeça, confesso eu; Mas graças a meu raciocinio rápido e conhecendo as mulheres como eu achava que conhecia nos ''altos'' dos meus 17 anos, achei que criticando a dita cuja que poderia acabar com meu almoço prospero e meu futuro na familia, corrigiria o meu deleito momentaneo onde me esqueci da situação e acompanhei por cinco maravilhosos segundos a trajetoria de uma musa nos corredores do restaurante que por algum motivo sorria sinceramente e olhava incansavel para mim.

Respirei com ar de pouco caso e ''genialmente''respondi suando frio ao comentario maldoso de minha namorada, certo de minha absolvição:''Linda?!Olhe só as enormes orelhas, e esse olho caido(a essa altura eu já era o retrato da hipocrisia), para não falar desses ombros tortos e das pernas de gancho'', ''acho que ela esta aos avessos''finalizei.

Pronto, a cara de espanto dos três a mesa me mostrava que havia concertado meu erro de forma brilhante e agora só restava colher os frutos da minha escapada triunfal durante o resto do almoço.Que geniou sou, pensava eu.

Só que após meu depreciador comentario,quando já estava retornando a minha enorme macarronada, as próximas palavras que ouvi foram as do meu sogro dizendo:''Bruno, essa aqui é minha outra filha ,Clara''e me mostrava já com as mãos em seus ombros ''tortos'', a bela jovem que eu acabara de admirar e em seguida caluniar com as mais barbaras ofensas fisicas jámais profanadas.Eu acabara de dar o fora mais lamentavel das historias dos ''primeiros encontros com pais de namoradas'' de todos os tempos e só me restava acabar a noite mais cedo, com alguma desculpa só não pior que meu fora, e ir pra casa triste pensando no fim obvio do meu recente namoro, até me perder numa enorme gargalhada que me faz imediatamente descobrir o real e cru significado da frase ''SERIA COMICO SE NÃO FOSSE TRAGICO''.E o pensamento de ''ACONTECE'' me conformou até o sono vir me fazendo esquecer do insólito acontecimento.Hoje já casado dou risada quando lembro...Minha ex-cunhada Clara, NÃO.

(Versão:Original,2006

*Autor: Zizou)

Zizou
Enviado por Zizou em 08/10/2006
Reeditado em 18/10/2006
Código do texto: T259147