Amizade-origami

Comprei uma pequena tartaruga de papel saindo de uma padaria no Alto na Lapa. Apenas uma moeda de um real para obter a longevidade, bem barato, aliás. O que me obrigou a pensar no que quero que seja longo na minha vida. Eis o resultado de uma manhã de domingo sem compromissos. Amizade: sentimento fiel de afeição, simpatia, estima ou ternura entre pessoas (dicionário Aurélio). Origami: uma arte milenar de origem japonesa, que tem como base a criação de formas através da dobradura de papéis, sem o uso de cortes (de alguma página da internet). Bom, eu continuo a insistir que o amor se reveste de tantas e inúmeras formas, todas genuínas e todas capazes de tecer dobraduras na existência do homem. Dobrar-se sobre si-mesmo talvez seja intenso e sempre oportuno, mas provavelmente dobrar-se sobre o outro, em atenções e afetos, seja mais que um esforço na direção de solucionar os enigmas da vida. Penetrar todos enigmas é, bem verdade, uma pretensão humana. Tanto como é dobrar-se sobre o outro, o que parece tarefa fácil, torna-se, em tantos momentos, o maior desses mistérios. Penso que alguns amigos já tenham feito tantas dobraduras na minha existência pois mal me lembro como era antes de suas mãos hábeis agirem sobre mim. Assim, me moldaram igual àquelas leves folhas de papel que (sob a técnica precisa e paciente do artesão) pouco a pouco recebem formas geométricas, agudas e tridimensionais. E o que era apenas um papel, de plano monótono, revive sob uma forma inusitada de um pássaro elegante ou mesmo de um vegetal ramificado e assimétrico. Ter sido uma dobradura sob as mãos de tantas pessoas que amo foi uma das mais gratas formas de amor que recebi. Como não posso dobrar-me sobre todos vocês, amigos, nessa manhã, recebam ao menos um abraço, como se fosse uma dobradura japonesa, um abraço leve, preciso e sem cortes.

Carlos Magni
Enviado por Carlos Magni em 08/10/2006
Reeditado em 08/10/2006
Código do texto: T259469