FUI MÃE DE UMA PEDRA

“- Benhêêê, ela nasceu, ela nasceu! ...” – eu gritei para a minha mulher, logo que ela saiu do consultório do dentista.

“- O que foi, Beto, fala, homem de Deus! ...”

“- É isso mesmo:- eu estava aqui na sala de espera, contorcendo-me em dores e antevendo mais uma cólica renal, quando me veio aquela súbita vontade de urinar. Corri ao sanitário, fiz força ... e a danada da pedra saiu! Sim, ela saiu num jato forte e bateu lá no fundo do vaso. Foi aquele alívio! Sou mãe, nasceu uma pedra! ...” – eu disse, num misto de riso e choro de alívio para a minha mulher.

Lembrei-me do Juca Chaves, meu colega de infortúnio, o qual foi fazer uma temporada artística em Portugal e, durante um dos seus shows, foi acometido por uma baita crise renal em pleno palco. Interrompida sua apresentação, levaram-no para um hospital e o artista foi internado, padecendo as dores que só uma cólica renal pode produzir num ser humano, coisa horrorosa! ...

Depois de muito soro, de muito “buscopan com baralgim” na veia, Juca Chaves expeliu o cálculo e recebeu a imprensa lusitana em seu apartamento. Aliviado, o humorista comentou, sorridente:-

“- Fui mãe, nasceu uma pedra! ...”

Pois foi o que ocorreu comigo. Padeço desse mal desde rapaz. A primeira cólica me ocorreu aos dezoito anos e sofri como o diabo. Meu saudoso pai, Constantino, ficou quase louco ao me ver no Pronto Socorro contorcendo em dores. Não sabia o que fazer e implorava ao médico:-

“- Doutor, pelo amor de Deus, meu filho vai morrer! ...”

Diagnosticado o mal, fui tratado e passou a crise. Nem me lembro se o cálculo saiu. Só sei que cinco anos depois tive uma nova crise e assim, de cinco em cinco anos vinha outra braba. O tempo passou, o prazo entre uma crise e outra foi encurtando até que, em Fortaleza, tive uma que deu trabalho e o cálculo expelido era quase do tamanho de um caroço de feijão roxinho. O médico examinou e disse:-

“- É, rapaz, essa é a mãe de todas as pedras que você já expeliu! ...”

Graças a Deus o tempo passou e fiquei muitos anos sem padecer dessas cólicas. Uns quinze anos depois enfrentei outra crise e me submeti a uma “litotripsia”, moderno tratamento à base de choques na altura dos rins, o que provoca a pulverização do cálculo e a eliminação daquela “areia” pela urina. Muito melhor do que agüentar as dores das cólicas e perfeitamente suportável pelo paciente.

E finalmente agora, também quase quinze anos depois dessa, passei de novo pela angústia de uma crise renal. Um pouco mais leve do que as outras, mas desconfortável como sempre. E a novidade é que a ultra-sonografia revelou, além desse cálculo que estava descendo para o ureter, um outro estagnado no rim direito. Como o médico disse:- “- Deixa êle quieto aí! ...” – Só me resta aguardar o sofrimento futuro, quem sabe, talvez para daqui mais uns oito, dez anos, se eu chegar até lá. Deus é quem sabe!...

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 03/11/10

Obs.:- Dedico esta crônica ao amigo “Aristeu Fatal” que, solidário, volta e meia pergunta:- “- E aí, prezado? A “pedrinha” saiu??? ...”

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 03/11/2010
Código do texto: T2595287
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.