SE DEUS DER BOM TEMPO...

Nada me intrigava mais na minha vida de criança, do que ouvir de minha mãe a expressão "se Deus der bom tempo" E quase sempre respondia assim, quando pedíamos que nos concedesse alguma regalia, favor, mimo, ou mesmo permitisse algum passeio. Poucas vezes variava dizendo "seu pai é quem sabe...". Isso soava menos mal, tinha chances de acontecer.

Nessas situações, olhava instintivamente para o dia através da janela e pensava se o tempo não estaria bom o suficiente e quanto melhor teria de estar para que fôssemos atendidos ou esse tempo seria alguma coisa mais complexa que nos fugia à compreensão

Sempre que dava essa resposta, me punha a matutar: Será que Deus vai se comover com uma petição tão singela e vai proporcionar esse bom tempo e vai avisar minha mãe quando será, ou vamos ficar esperando até não sei quando esse dia chegar ou nem mesmo chegar. Fato é que nunca me sentira à vontade quando dependia de qualquer outro que não fosse ela mesma ou meu pai.

Tínhamos noção da supremacia de Deus e, mesmo sabendo que era o Todo Poderoso, nada disso nos garantia que o que pedíamos seria realizado e assim seguíamos no vai-não-vai, no pode ser que sim.

Não sei como meus cinco irmãos assimilavam isso no seu íntimo, mas não via muito ânimo em suas expressões quando a famigerada frase era dita, quando ela, diante das louças do almoço, entre as trocas das camas ou mesmo, quando sentada em seus raros momentos de folga, a devanear sobre os rumos que a nossa vida pudesse tomar, ou estendendo roupas de vários tamanhos , no varal colorido mas estressante de sua rotina.

Passadas várias décadas, sempre que meu filho me pede para lhe fazer alguma coisa, jamais digo "se Deus der bom tempo", porque sei que não compreenderia de pronto essa afirmação aparentemente negativa que tem tudo para aniquilar as positivas expectativas tão necessárias no dia e dia de qualquer pessoa.

Ou será que a felicidade que sentíamos ao embarcar num trem-de-ferro rumo à fazenda, ao saborear o esperado sorvete, curada a amigdalite, corrermos a derrubar aleluias depois da chuva, dependurar nas árvores no pomar alheio, depois de cumprida a tarefa em casa era apenas uma amostra de que a qualquer momento, em qualquer tempo, à revelia do próprio tempo, Deus, em sua infinita bondade, nos estava presenteando com um maravilhoso e inesquecível bom tempo!