Percurso irônico

Após um dia um tanto quanto cansativo, não só de trabalho mas também de outras atividades;após ter saído do Rio Comprido pro Leblon, de lá ter ido pra Tijuca,depois pro Maracanã pra encontrar minha mãe em Botafogo e juntas irmos para casa no Caju...ufa. Nos dirigimos a um ponto de vans que fazem um caminho mais rápido e mais confortável do que os ônibus dada a hora em que estávamos.Entramos numa kombi (demos o azar da kombi sair antes das vans)e nos sentamos, eu na janela e minha mãe ao meu lado.Minha mãe sentia fome, por isso comprou saquinhos daquelas pipocas embaladas em sacos rosa a qual o cheiro tanto me incomoda; mas como era minha mãe e com fome, tentei ignorar o cheiro, até porque estava na janela.

No percurso passamos pelo aterro do flamengo e quão gostoso foi vê-lo à noite, pareceu-me aos olhos maravilhoso; o céu negro e estrelado podia fazer meu rosto resplandecer e o vento geladinho que vinha da janela valeu por todo o dia.Naquele momento pude sorrir pro nada, me senti extremamente bem,esqueci do cansaço,da correria, e me lembrei de como as coisas mais simples da vida podem ser belas. De como Deus realmente existia e podia ser visto por todos esses elementos tão naturais...e melhor ainda...o ventinho gostoso e gelado não me deixava sentir o cheiro da pipoca nem tão pouco escutar o funk/pagode vindo do som do motorista.

Pode-se dizer que eu estava no auge do meu dia quando acordada pela cruel realidade ouvi:

"Ai,filha...esse vento frio no meu rosto...fecha isso!Pelo menos um pouquinho." No momento ápice de decepção fechei a janela por completo...quando minha mãe disse "era só um pouco", o que fez meu sorriso quase voltar ao rosto.Abri uma brechinha... o suficiente para que ela novamente reclamasse e eu reconhecesse que o jeito era fechar a janela de vez.

Lástima.

Gosto de ver minha mãe feliz.

Amo minha mãe.

O que não amo são kombis fechadas, motorista funkeiro e cheiro de pipoca de saco rosa me dando dor de cabeça, após um dia cansativo...

Mas essa é a vida.

Quase inacreditável de tão irônica.

Ainda aprendo a voar e tudo mudará um dia...assim como a política.

Rio de Janeiro,22 de agosto de 2006

Andréa Amaral Nogueira

Andréa Nogueira
Enviado por Andréa Nogueira em 10/10/2006
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