GENTILEZA POUCA É BOBAGEM

Está acontecendo uma campanha aqui em BH sobre a gentileza urbana. “Pratique Gentileza”, diz o bordão da peça publicitária no rádio, sempre seguido de um exemplo de bons modos e cordialidade dito por algum famoso de sempre ou do momento. A prefeitura já havia iniciado antes com cartazes nos ônibus em uma campanha “Gentileza Urbana É...”, que até lembra um antigo álbum de figurinhas chamado “Amar É...” Eram uns bonequinhos de menino e menina com uma frase de amor romântico em cada figurinha.

Tudo bem que a correria da vida moderna tira o foco das pessoas de se voltarem para as outras pessoas. Uma guerra surda, muda e cega se trava todos os dias nas ruas para ver quem chega primeiro, quem faz primeiro, quem vence primeiro, mesmo não havendo pódio para ninguém. Mas, vem cá, gente: precisávamos chegar a este ponto? Puxa vida, eu não sou desses chatos da nostalgia, mas sou lembrado pela minha consciência teimosa a toda hora que uma das primeiras coisas que aprendi foi ser educado, gentil e cordial. Minha mãe sempre dizia: “não maltratar para não ser maltratado, quem planta colhe e dependendo do que planta e como cuida vai colher bons frutos ou erva daninha. Fazer o bem sem olhar a quem. Gentileza gera gentileza.” Esses valores foram se entranhando no meu cotidiano de tal forma que nunca mais precisei seguir mandamentos depois de velho para reaprender, a despeito de todos os percalços por que passei durante a minha vida. Já tive aqueles momentos de mandar tudo e todos para aqueles lugares inóspitos, inusitados e inconcebíveis mas não o fiz.

Além de ensinamentos tinha regras. Acordava de manhã e se não tomava a bênção ou desejava bom dia ouvia o seguinte:

- Por acaso você dormiu comigo?

Meu pai, quando dava qualquer coisa, por insignificante que fosse e a gente não dizia “obrigado” ele se antecipava

- De nada, seu malcriado!

E tem uma que se tornou inesquecível, apesar de hoje eu não exigir o mesmo dos mais novos: o respeito aos mais velhos a partir do tratamento. Quando ele chamava para alguma coisa e a gente respondia: “o quê?” A réplica era rígida:

- O que, não! Senhor!

Tá certo que a nossa vida é uma hierarquia desde a hora do nascimento até o fim, há quem manda e quem obedece o tempo todo, mas a cordialidade existe não é para equilibrar estas relações? Além do mais, não é agradável receber um desejo de bom dia, um muito obrigado, dá licença, como vai e, por favor?

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 14/11/2010
Código do texto: T2614456
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.