Saudades de mim 4. A novena.

"Santa Barba virgi;

Qui di Deus ela é istimada;

Manda chuva meio dia;

Pá terrá ficá moiada."

Era com esse cântico que começava a procissão da novena prá Santa Bábara para que chovesse em época de muita seca. Em fila indiana, carregando imagens e quadro de santos e garrafas de água lá ia a procissão de mulheres e crianças rumo ao "corgo" onde havia na margem um túmulo com uma cruz de madeira enegrecida e todos sabiam que lá estava enterrado um homem que morreu "matado" e era lá o destino da procissão. Ao chegar lá, todos muito contritos, ajoelhavam, rezavam, faziam o sinal da cruz e despejavam as garrafas dágua na cruz, e as crianças já liberadas da penitência entravam na água, enchiam as garrafas vazias e despejavam na cruz e aí acabava a devoção e começava a diversão, e era um tal de rolar na lama e mergulhar no corgo, catar "guarú" com as mãos e engolir vivo " prá aprender a nadar" e até o São Benedito esculpido em madeira escura entrava na brincadeira sendo jogado na pequena correnteza para ir boiando até cair na cachoeira. Mas como tudo o que é bom dura pouco, logo as mães chamavam prá ir embora, pois diziam que a água estava muito fria, que o sol tava muito quente, que todos iriam acabar "cosntipados" e a criançada ia sob protesto, "molhadas que nem um pintinho" com as roupinhas surradas grudadas nos corpinhos magros. Saudades da fé singela de um povo simples.

Madaja Dibithi
Enviado por Madaja Dibithi em 14/11/2010
Reeditado em 12/12/2010
Código do texto: T2614945
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