Nunca o Purgatório

O fato é que não gosto de nada morno.

Leite morno, filme morno, romance morno, amor morno? Nem pensar. Faça-me arder, ou tenha a compaixão de ser uma suave calmaria. Mas não me desperte para o mais ou menos.

Eu quero o inferno ou o Céu. Não me contento com nenhum purgatório. Ou me devore inteira ou não tire nenhuma fatia: ou seja gula ou recolhimento, nunca moderação.

Se for pra me fazer voar, que seja entre as nuvens. Caso contrário me deixe no meu chão estável e conhecido. Não me pinte com tintas pardas, eu sou vermelho. Nunca bege.

Bagunce meu cabelo, beije minha nuca, me arranhe com sua falta de modéstia. Mas saiba que meu coração não é um cofre fechado, e que se é, não sou eu quem possui a chave: A senha de entrada está a seu bel prazer.

Não use imoderadamente seus olhares comigo, não me conquiste para ser um belo apetrecho ao seu estilo básico, me ame intensamente e te amarei da minha forma louca e insensata.

Fuja comigo. Ou me leve com você. Mas não me deixe pra trás enquanto você acena: não estou acostumada a ser um porto seguro, eu sou o mar agitado, não o lago tranqüilo.

Me ame no chão, que seja. Mas não me deixe calar meus gemidos em palavras, não me deixe trocar meus arrepios por banhos frios. Seja intenso, não eterno. Não preciso de nada imutável.

Eu não nasci para o 'mais ou menos'.