Ideologias tolas

O filme Os Mercenários, protagonizado e dirigido por Sylvester Stallone, que ainda traz no elenco um respeitável número de atores especializados em cinema de pancadaria como Jason Statham e Jet Li, é mais do que um festival de cenas violentas, com mutilações e decapitações mostradas em detalhes anatômicos, que fazem Rambo e O Exterminador do Futuro parecerem suaves como comédias românticas. Carrega o filme um monte de ideologias tolas que enaltecem os Estados Unidos, mostrando o país como o herói do mundo,do qual todos os outros países dependem.

Na história, Stallone (com um ar cansado), é Barney Ross, líder de um grupo de mercenários que topam qualquer serviço desde que sejam pagos, recrutados para derrubar um ditador de uma ilha latino-americana, a fictícia Vilena. Qualquer semelhança com Cuba dificilmente será mera coincidência, supomos no fim do filme.Barney vai à ilha fazer um reconhecimento e é ajudado pela própria filha do ditador, Sandra. Porém, ele é descoberto e foge após muita perseguição e tiroteio. Sandra, no entanto, fica. De volta aos Estados Unidos, Barney não consegue parar de pensar na garota, que age por idealismo e não por dinheiro, como ele e decide voltar, contrariando seus princípios de só se arriscar se for pago, resolvido a salvar a moça.

O grupo de cinco mercenários vai a Vilena, armado de facas, armas e explosivos e, conseguindo burlar a vigilância do palácio presidencial, consegue, em uma noite, derrotar um Exército, derrubar uma ditadura e explodir o prédio. O que vemos? Uma clara exaltação da superioridade bélica norte-americana. Os soldados latino-americanos estão em maior número e também usam armas, mas não acertam um tiro e morrem como carneiros. São retratados como pouco inteligentes e inábeis, ao passo que os mercenários norte-americanos vencem porque são mais inteligentes e têm armas melhores, matando um atrás do outro.

Em uma cena, o ditador diz que precisam deter os Estados Unidos e seu imperialismo contudo, pouco depois, ele é morto por um tiro dado por um traidor e o prédio é explodido.Qual a mensagem? Nada pode deter os Estados Unidos que, no filme, exercem o papel messiânico de destruir um regime violento e ilegítimo matando, explodindo, mutilando e banhando a tela com sangue. Ou seja, para acabar com a violência, é necessário usar violência.

quem assiste e nota o ufanismo exagerado ao arsenal e habilidade norte-americanos, talvez lembre de quando o ex-presidente George W.Bush disse, em um de seus discursos, que o seu país devia atacar o "polígono do mal", representado pelo Irã, Iraque e Coréia do Norte. Em nome da paz, era válido invadir outros países, interferindo em seus modos de vida e cultura. Como no filme, podia-se entrar e mudar tudo em defesa da paz.

Bem, não é assim tão simples.Os Estados Unidos já sentiram que armas e um Exército treinado não bastam para vencer uma guerra. Quem sabe História, deve lembrar do Vietnã, que venceu mesmo sem ter o mesmo artefato bélico e, basta acompanharmos as notícias para vermos o que houve com as recentes invasões ao Afeganistão e Iraque: desastres vergonhosos.

Após terminar o filme, pensamos que, se o Exército dos Estados Unidos fosse composto só de homens como esses mercenários, nenhuma guerra seria perdida e eles seriam imbatíveis.