Todas as mulheres são loucas...


      Abro o jornal de domingo e encontro uma notícia interessante. No livro “Guia prático para um namorado perfeito”, escrito por Felicity Huffman e Patrícia Wolff, um absoluto sucesso de vendas nos EUA, as autoras sugerem que as mulheres comprem o livro, leiam-no e “o esqueçam” nas casas dos namorados, induzindo-os sutilmente, portanto, à leitura do Guia. Com isso, esperam que eles não cometam alguns pecados capitais, como, por exemplo, serem “sinceros demais” se acharem que as namoradas não cabem mais nas calças jeans.
      Felicity e Patrícia assumem que as mulheres são muito complicadas e tentam provar a teoria de que os problemas de relacionamento vêm do tempo de Adão e Eva, já que, segundo elas, Adão tornou-se o primeiro pobre coitado obrigado a suportar uma mulher mandona e cheia de vontades. Vejam este trecho do livro: “Deus disse: Não coma desse fruto. Eva disse: Se me ama, experimente. O pobre sujeito tinha Deus de um lado e Eva de outro; estava entre a cruz e a espada. Adão até tentou argumentar com sua garota, advertindo-a dos perigos de desobedecer à lei de Deus, mas ela não o escutava.(...) Talvez Adão fosse apenas um cara normal, tentando fazer sua namorada feliz. Não poderia ser fácil. Nós, namoradas, podemos dar muito trabalho”.
      E Felicity e Patrícia vão mais longe. O título do primeiro capítulo é uma advertência para nós, homens: “Todas as mulheres são loucas”. Ah, que bom! Agora posso falar, sem que me acusem de machismo ou qualquer coisa parecida!
      Minha mulher fica com ciúmes e discretamente exerce atenta vigilância quando me vê em bons e longos papos com minhas amigas da Internet. E quando conversamos a respeito, ela ironiza: “Por que tens 95 amigas e apenas 2 amigos no Orkut? Por que todas as tuas amigas são bonitas e, geralmente, solteiras, separadas ou casadas "mal resolvidas"? Eu respondo que é pura coincidência e ela continua a ironizar: “Então, tá, me engana que eu gosto!”
      Então, de repente, nada mais que de repente, eu dou um tempo para o computador e Internet, e passo a sair regularmente todos os dias. E aí também, com mil demônios, ela não gosta: “Que tanto fazes na rua, se és aposentado? Eu te prefiro na Internet; pelo menos lá as mulheres são virtuais e estão longe!”
      Tive uma namorada que me largou por causa de outro sujeito. Nada mais havendo a fazer, conformei-me e arranjei outra namorada. Meses depois, ela me telefonou:
      - Oi, Antonio, tudo bem?
      - Tudo.
      - Hum, você está tão frio... Zangado comigo?
      - Não, está tudo bem.
      - Tem certeza? Olha, estou morrendo de saudades de você. Quero voltar!
      - Sinto muito, querida, tenho outra já faz meses; até estamos pensando em viver juntos.
      - O quê? Cachorro! Mentiroso! E você vivia dizendo que era louco por mim! Foi só eu me afastar um pouquinho e você se arrumou com uma vagabunda qualquer, né, safado? Os homens não prestam mesmo!
     Um amigo meu relata que se cansou de ouvir de uma de suas melhores amigas, quando remetia uma piadinha ou um galanteio:
      - Olha, cara, não vem que não tem! Tu és muito perigoso, ficas jogando charminho para que as tolas se apaixonem por ti, mas eu não caio na tua lábia, tô vacinada contra sedutores da Net!
      Então ele passou a conversar mais sério e menos frequentemente com ela, que não demorou muito para esbravejar:
      - Por que sumiste? Por que ficaste tão frio comigo? Quem é a outra, a bola da vez?
      Como dizem Felicity e Patrícia, nós, homens, talvez sejamos apenas uns caras normais tentando, como Adão, fazer as nossas mulheres felizes.
      Tarefa nada fácil, como logo soube o primeiro idiota que, tendo sucumbido à insistência da Eva para comer a maçã que ela lhe oferecia, foi detonado das delícias do Paraíso e tornou-se o primeiro marido-mandado-por-mulher da História a entrar pelo cano. E dizem as más línguas que, enquanto arrumavam os bagulhos para caírem fora do Paraíso, Eva buzinava no ouvido do Adão:
      - Idiota! A culpa é toda tua! Eu só te ofereci a maçã, não te obriguei a comê-la! Mas vivias morrendo de vontade de comer o diabo da maçã, não é mesmo, cabra safado?



Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 27/11/2010
Reeditado em 11/09/2011
Código do texto: T2639538
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