Tudo para sentir-se feliz

Tudo para sentir-se feliz

Elsa B. Pithan

Eu estava sentada num dos bancos do TITRI (o terminal de ônibus da Trindade) esperando o meu ônibus que eu perdera por um minuto. Ainda o vi manobrando para sair. Agora teria que aguardar o seguinte por meia-hora. Abri minha bolsa e tirei um livro que sempre leio nessas ocasiões. Dali a uns minutos uma moça lá pelos seus trinta e poucos anos sentou-se ao meu lado. Levantei os olhos e olhei-a. Era bonita. Pele clara, aporcelanada e uns maravilhosos olhos verdes. Cabelos loiros ondeados. Nas mãos bem feitas, um anel delicado com uma ametista. O esmalte das unhas de um rosa leve ressaltava a suavidade de seus gestos. Pensei. Esta moça está de bem com a vida, tem tudo para saboreá-la. Tudo para sentir-se feliz. Fitei-a nos olhos e sorri. Vou dizer-lhe que bom é olhar para ela. Foi quando a moça numa voz lenta e suave me disse:

- Estou com um câncer de mama. Vim do médico agora. Imagina.

No rosto, um sorriso incrédulo, medroso.

Lembro que meu livro caiu. A moça já se levantava. Seu ônibus chegara. Fiquei ali com o meu desencanto.