Escuta o Teu Mestre 5

5.

Estava o Mestre sentado no café, de olhar fixo, meditando, quando o discípulo se abeirou e comentou pesarosamente:

-“Mestre, acreditei no ser humano e fui traído por quem se dizia amigo. Enquanto precisaram de mim, foram só palmadinhas nas costas e elogios. Depois uniram-se para subir na carreira e convenceram os patrões a despedir-me. Agora estão no topo e eu afastado.”

O Mestre levantou a cabeça, passou os dedos pela fronte careca, olhou o discípulo nos olhos e disse:

-“Estava uma leoa junto dos seus filhotes, quando avistou um jovem macho, ainda sem juba densa, algo maltratado. Caminhava coxeando e sorrateiramente aproximava-se, temeroso, desconfiado, solicitando acolhimento. O instinto maternal dizia à leoa para ser cuidadosa, mas o estado do jovem leão merecia cuidados e a sua fraqueza não afrontava a força superior da leoa. Aceitou-o no seio da família e passou a distribuir com ele parte da caçada que trazia. O jovem leão foi recuperando e já tomava conta dos filhotes quando a mãe se ausentava.

Entretanto o rio secara e a leoa sedenta, viu-se obrigada a ir mais longe beber água. Quando regressava ao seu esconderijo, ouviu um grunhido forte do jovem leão a cheirar e delimitar o seu novo território. A ninhada encontrava-se morta.”

O discípulo levantou-se e enquanto caminhava, meditava na fábula do Mestre: nunca devemos baixar a guarda, nem acreditar em absoluto, mesmo naqueles que outrora ajudámos. Poderá vir o dia em que a ganância e o desejo de poder se manifeste em instintos de malvadez e se sobreponha à razão da honradez e da amizade.

Vimarakof

Vimarakof
Enviado por Vimarakof em 15/10/2006
Código do texto: T264714