Esperança... A última que Morre... ou
O Último comprimido ?

 


Os dias se passavam num permanente anseio!
Num repente intuitivo e sobrenatural, após sorver seu costumeiro comprimido de Propanalol, Esperança decidiu-se de vez em rever  aquela voz amada, e quem sabe... descobrir se ainda era querida!

Quem sabe entre esperanças desfeitas, viria a ensaiada despedida?

E ela assim o fez!

Voz trêmula, boca torcida, enche-se de coragem, e num celular pré-pago,desprovido de créditos que resistissem ao texto ensaiado,não mais resiste!

Disca!
Seu coração já cansado, vermelho desbotado, lhe salto no peito, em descompasso perfeito, mas que lhe tranqüiliza que ainda está viva!

Escuta então aquela voz, que lhe estremece as raízes e todas as varizes...e ainda lhe arrepia o cavanhaque! (Herança maldita das velhas tias de Algarves!)

Em meio a risadas e trejeitos, ele relata a verdade nua e crua, que sua ilusão não aceita e que jamais queria escutar! Foi para o espaço a possível e secreta reconquista! O homem que amava, ele mesmo se gabava...Disfarçava o prazer da chamada e se dizia amando outra! Ele mesmo confessava...!!!!!!!

Seu coração partido, rejeitado, porém esperto e preparado, impulsiona em fração de segundos,uma súbita rajada:- O fluido substancial da vida! De imediato, são limpas e lubrificadas como num  lava à jato” suas artérias cerebrais semi-entupidas...
Resultado inexorável...quase falido,
mas que na hora  exata lhe salvara !

Sua boca tremula, enrugada e sem qualquer viço, emite palavras inventadas e sons postiços... Frases ensaiadas vão sendo ditas, respondidas, enquanto suas pernas alquebradas exigem que seu corpo,
procure algum apoio, que lhe sustente o peso da vida e o desencanto daquele momento nefasto!

Meu Deus! Como faria para se recompor e desfazer qualquer pista,que sob seus óculos e sobre tantas rugas, rolavam lágrimas de decepção e amargura?
Depois dos minutos que voavam, num vai e vem de palavras sem  juras,os créditos acabaram... e aquela ligação tão temida se rompia...

Decepcionada e deprimida, Esperança refletia e se consolava:
 - Não seria na verdade esse desfecho inesperado, o “grand finale” que tanto queria? 
Cabisbaixa, sorvendo os goles de ar que ainda lhe sobravam, dos tantos cigarros que fumara, sentou-se em sua cadeira preferida...

Pensou... Como é difícil entender a vida!
Buscou antigos papéis... Reviu fotografias...
Agradeceu ter amado duas vezes numa mesma vida...
Guardou o cobertor que tricotava...e para não tomar conta de mais nada...
E para não sonhar com o que não mais lhe pertencia...
Esperança morreu...Naquele mesmo dia!

 

 

 

 

Mariapaz
Enviado por Mariapaz em 02/12/2010
Reeditado em 02/12/2010
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