Flagrante
"Eis que me surge, do longínquo passado, uma imagem difusa de um casalzinho caminhando pelas ruas de uma cidadezinha do interior, mas do interior mesmo, aquele interior que quando alguém pergunta- onde é mesmo, alguém põe em dúvida - será que existe mesmo... pois o dito casalzinho, à parte do que se possa duvidar ou não, vem na maior calma, no maior "love", fazendo juras de amor eterno, do tipo -onde andavas até agora que nào tinha te visto -, ou - olha as estrelas, elas são testemunhas do nosso amor.
Pois eis que, ao dobrarem a esquina, absortos que estavam no romântico enlevo, não perceberam um vulto, que ao longe se divisava e, que aos poucos, pela pouca claridade da rua favorecida por alguns postes de luz, ia se aproximando a passos largos. Tão logo a imagem foi ficando mais clara e revelou a fisionomia do sisudo senhor, quase que num gesto autômato, o casalzinho largou as mãos e assumiu uma postura de velhos conhecidos. Ao cruzarem com a figura que causou tamanho descompasso e flagrante mudança nas atitudes, apenas o cumprimento quase num suspiro - Oi, pai...; - Boa noite, seu Fulano.
Alguém respirou? O que é isso? O ar ficou contido na garganta, e, como num nó, ali ficou suspenso por alguns looongos minutos, até perceber que o vulto dobrava a esquina, impassível.
- Uffa, por essa escapamos, melhor cada um ir para o seu lado, amanhã mando recado pela Aninha, quem sabe a gente consegue se ver no recreio ..."