O Presente


    
 Adoro presentes! Quando criança esperava ansiosamente pelo meu aniversário, dia das crianças, amigo secreto, Páscoa e Natal para poder ganhar presentes. E mesmo agora depois de adulto a criança dentro de mim continua adorando essas ocasiões festivas por causa dos presentes. Sei que estas datas significam muito mais do que o mero dar e receber presentes mas, sinceramente, é isso o que elas têm de mais legal e divertido.

      E foi em uma ocasião dessas, um amigo secreto organizado no trabalho, que aconteceu algo tão engraçado quanto inusitado e decepcionante. Depois de toda aquela expectativa, do sorteio dos amigos — havia tirado uma pessoa super bacana — e dos envios de bilhetinhos anônimos, finalmente o dia da revelação e troca de presentes havia chegado. O nosso diretor reservou uma sala em um restaurante especialmente para o nosso amigo secreto. Comida e bebida por conta dele, tudo estava indo muito bem. 

      Até que, para minha completa decepção, anunciaram que a pessoa que eu havia tirado não viria pois no dia anterior havia fraturado o dedão do pé jogando ping pong. Deus do céu, como alguém consegue fraturar o dedão do pé jogando ping pong? A destrambelhada inventou de jogar descalça e num lance mais afoito, só para não perder o ponto, orgulhosa como era, se esforçou demais e topou com o dedão no pé da mesa. Ai! Disse ela depois que quebrou o dedão, perdeu parte da unha mas não perdeu o ponto.

      Mas não foi só isso, o pior estava por vir. A noite prosseguiu e todos foram revelando o seu amigo secreto, trocando os presentes e afagos, abraços, e a minha vez não chegava nunca. Até que, finalmente, sobrou apenas eu. Fiquei lá com cara de bobo e presente nas mãos, quando todos deduziram o óbvio: eu havia tirado a amiga ausente e ela me tirado! Piadas e risadas à parte, a brincadeira foi uma chatice só. Ao invés daquilo ser amigo secreto para mim foi solidão secreta, tadinho de mim. Mas que foi engraçado, foi.

     Alguns dias depois já com o dedão melhor e após saber do ocorrido, ela resolveu comprar mais um presente (o primeiro foi uma camisa polo) para tentar amenizar o constrangimento causado. Ela disse que aquele presente era de Natal, especial, não de amigo secreto mas de amigo predileto. Fiquei emocionado com o mimo e, todo feliz, rasguei o pacote com um sorriso no rosto. Ela me deu um kit para jogar ping pong com duas raquetes, uma bolinha, um pacote de gaze, um rolo de esparadrapo e um bilhete onde lia-se "para o caso de você querer jogar descalço".

     Agradeci o carinho e disse para ela, brincando, que estava mais para um presente de inimigo secreto do que de Natal. Fazer o quê, cada um ganha o que merece. E presente é presente, o que vale é a intenção. É claro que não quebrei o dedão do pé usando as raquetes mas a gaze e esparadrapo acabaram sendo úteis, tempos depois, quando ralei o cotovelo ao cair na rua fugindo da chuva. Foi uma cena patética, mas isso é causo para uma outra crônica. O importante é aqui deixar registrado que apesar do infeliz (e cômico!) amigo secreto que tive o infortúnio de experienciar, eu ainda adoro dar e receber presentes. 


Dezembro de 2010

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Presente de Natal
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