O LOBO VORAZ

Aos 45 anos de idade o advogado Fábio tinha formado uma selecionada clientela. Era casado com Lurdinha há 18 anos, advindo dessa união, Emilia, uma linda morena, que hereditariamente trouxe consigo os bonitos traços da mãe.

Fábio mostrava-se enfarado com a rotina do seu casamento, e assim tornou-se presa fácil de cupido, que o jogou nos braços da bonita Isabel, jovem e no esplendor irreverente dos seus 18 anos, e que, trabalhava há pouco tempo como sua secretária.

O advogado acreditava que se relacionando com a secretária, sua autoestima aumentaria e aliviaria o tédio que tinha se tornado a sua vida. Ledo engano! Algum tempo depois Isabel, caiu de amores por um jovem e atlético pagodeiro, que usava boné, camiseta e bermuda, além de várias tatuagens a lhe decorar o corpo, e o deixou sem maiores explicações.

O abandono sofrido acabou por desencadear uma verdadeira revolução na vida de Fábio. Ávido por entender o motivo do desenlace, que os amigos debochando chamavam maldosamente de “chifre”, o advogado foi tomado por crises cada vez mais frequentes de ciúme, aproximando-se do desespero.

Ele passava de carro várias vezes pela casa de Isabel, na vã tentativa de ver a moça. Reconquistar a secretária virou uma obsessão na vida do causídico. Telefonava a todo o momento, contudo a moça não atendia ao celular.

A angústia do advogado chegou a um ponto que teve de se afastar do trabalho por dias, o que afetou substancialmente a sua vida sócio econômica e colocou seu casamento em risco. Desiludido e morrendo de amores por uma musa que o ignorava, Fábio tornou-se assíduo dos bares e constantemente era visto em andar trôpego completamente embriagado.

O rapaz foi amparado por uma igreja evangélica, recuperou-se e retornou ao seio familiar. Da desilusão amorosa vivida ficou apenas uma triste e amarga lembrança.

Mesmo sem ser um estudioso da mente, classifico o fato como crise de meia idade. Os sintomas apresentados por Fábio indicavam que ele tinha se deparado com a mais terrível experiência que o homem passa na vida; o envelhecimento. Essa experiência tarda, mas não falha! E como maltrata!

O certo e comprovado cientificamente é que após os 40 anos de idade, o homem passa a caminhar pelo desconhecido mundo da meia-idade. É a maior transição enfrentada por ele.

É quando o homem avalia seus sonhos, alvos e projetos e fica satisfeito ou frustrado; é quando ele passa a questionar tudo, inclusive a vida. Nessa faixa dos 40 anos, os homens transformam-se em "lobos vorazes", saindo à caça de presas, de amores antigos, que satisfaçam sua afirmação e cobiça.

Assim sendo a busca extraconjugal não passa de um alívio temporário a conflitos emocionais mais sérios.Quando essa fase chega, ela se alia a rotina e a monotonia que massacram o homem; então ele vê que a aventura ou uma nova forma de realização estão do outro lado da porta de sua casa, convidando-o para uma escapada.

Quando a esposa e os filhos já não dependem tanto dele; quando ele inicia uma batalha para que sua aparência física ainda desperte admiração e desejo do sexo oposto; quando "cai a ficha" de que ele não viverá para sempre - o chão lhe foge dos pés, então entra em crise.

Também conhecida como "idade do lobo", essa crise é descrita pelo psiquiatra suíço Jung como metanoia (palavra grega que significa "mudança") e que se dá a partir da confrontação do indivíduo com o "envelhecer" e, por conseguinte, com a ideia de ser finito. Por mais centrado que for o homem, nenhum está livre dessa etapa da vida.

Na ânsia de conter a angústia dessa fase, alguns homens passam a tomar atitudes que podem causar estranheza para a família e o coloca na condição de ridículo, como, por exemplo, usar roupas de jovens, alguns chegam a mudar a aparência, usam rabo de galo, brincos, fazem tatuagens e falam gírias. Querem-se mostrar como se tivessem 20 anos e viram alvo de deboche até mesmo da família.

Que tristeza!.