Poeta moderno

Eu sou um poeta moderno, talvez. Eu não uso drogas, não vivo entre putas e cochichos de esquinas. Eu sou um poeta moderno, já disse... Eu me alimento de sentimentos e sentidos humanos, simples no significado, ricos no gosto, nas palavras que caem sobre o meu colo, são tão fáceis, tão amargas e doces ao mesmo tempo, que até me confundem, não sei de quem são, nem o que querem aqui comigo. Por que eu escrever?

Eu sou apenas um poeta, um poeta moderno, às vezes contista, cronista e afins, eu faço as palavras, eu monto fila indiana com elas, até me dizerem o que quero, até me fazerem amá-las, gostar do que estou sentindo. Sim, sentindo, porque eu sinto o que escrevo, tudo fica aqui, conspirado e colado em um monte de personagens que não me deixam, que se espremem dentro de mim. Nem sei como vivem, nem sei como ainda não desistiram de morar aqui. Uma vez tentei chamar um deles, mas ele não me deu muita audiência, não quis conversa, deu de ombros e saiu para mais dentro de mim. Eles e elas vivem aqui, já disse. Os personagens e as palavras moram em mim, e eu não uso drogas, e eu não vivo entre putas e cochichos de esquinas, nunca foi assim, e eu não entendo como e porque eles moram aqui.

Ana Nery Machado

12/12/2010