Aranha

O rapaz descia do pequeno morro que divide os dois prédios de sua faculdade. Estava junto de dois amigos, um homem e o outro, uma mulher, conversando distraidamente sobre um pensamento filosófico. Eram todos acadêmicos de filosofia.

Foi quando, de relance, o rapaz olhou para o chão. Viu uma espécie de sinal, uma mancha, bem do lado de seu pé. Na velocidade de um piscar, mas que lhe parecia durar horas, sua mente fixou-se única e exclusivamente no ponto, no sinal, e sentiu como se tudo a sua volta estivesse parado no tempo.

Havia entrado em transe.

Como se despertasse de um sonho, ou pesadelo, voltou a realidade, e viu-se parado olhando para um pequeno ponto escuro no chão.

Parecia-lhe, vagamente, uma aranha. Olhou mais profundamente. Era uma aranha. E das grandes.

Tomou-se por um breve pânico inicial, devido à leve aversão que tinha desde criança, mas teve a atenção desviada pelo amigo.

Os três olharam e se espantaram com a aranha, mas o rapaz estava incomodado de continuar ali. Resolveram então voltar para a quadra de seu prédio.

Estavam calados quando a amiga disse “era um sinal”, normalmente, como se fosse uma coisa cotidiana. O rapaz então se lembrou de seu livro favorito, que narrava a história de um pastor de ovelhas que havia viajado até as pirâmides do Egito em busca de seu tesouro. Durante o trajeto, lembrava-se o rapaz, ele havia aprendido muitas coisas, inclusive a interpretar os sinais. Perguntou para a amiga se ela já havia lido O Alquimista, de Paulo Coelho. “Já”, ela disse.

Concentrou-se então em tentar compreender os sinais. Não conseguia se lembrar do que havia visto na espécie de transe em que havia entrado. Mas lembrava-se da aranha.

Ao pensar na aranha, começou a pensar que tipo de sinal a aranha podia representar. Começou lembrando-se de filmes e depois já estava pensando em tudo, e então se lembrou de duas coisas que assemelhavam aranhas a mulheres: a letra da música Rock das Aranhas, de Raul Seixas, e o clip de Miss You, do Blink 182.

Mas o importante é que aranha se relacionava com mulheres. E se havia estado muito próximo de uma aranha, interpretou que estaria muito próximo de uma mulher. Teria de ir à caça.

Agora, pensava apenas onde poderia encontrar uma festa para poder ir à caça. Pois iria atrás de seu sinal. Havia sentido como se tivesse entrado na Alma do Mundo, e ganhado forças para seguir seu caminho.

Iria seguir seu sinal. Encontraria sua mulher.

Encontraria sua aranha.

Eduardo Setzer Henrique
Enviado por Eduardo Setzer Henrique em 17/10/2006
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