SE A MODA PEGAR!

Na semana passada, lendo uma crônica de Jorge Bucay – psicólogo, psiquiatra e psicoterapeuta argentino –, traduzido para o português pela poliglota e inteligentíssima Josselene Marques, em seu blog Expressão, eu fiquei, inicialmente, pasmo, com o título do texto: Há que se ter um amante! (Hay que buscarse un amante).

Ele começa o seu registro falando que é muito procurado por aquelas pessoas que perderam seus amantes (por outras que não têm e, ainda, por aquelas que nunca tiveram) e, por causa disso, todas se sentem infelizes, e apresentam sintomas dos mais diversos, dentre eles: insônia, apatia, pessimismo, crises de choro, dores pelo corpo e, em muitos casos, sintomas depressivos.

A receita, segundo ele, é simples: a primeira coisa a se fazer é procurar um amante para se evitar tomar antidepressivos.

Assim, de cara, a primeira impressão que se tem, ao ler o texto, é de que esse portenho está completamente insano para exercer as suas profissões. Primeiro, por sair falando que suas clientes são adúlteras; segundo, por “receitar um remédio” em forma de ser vivo – e não comprimidos e injeções fabricados pelos laboratórios farmacêuticos – e que, para ser “tomado”, não se faz necessário uma receita por escrito, mas, e apenas, a vontade de quererem recuperar sua autoestima e, consequentemente, a esperança de encontrar a felicidade.

Mesmo que a maioria de suas pacientes seja de mulheres que, de fato, tiveram amantes, algumas, claro – que não tiveram amantes –, ao ouvirem isso do médico, simplesmente desaparecem escandalizadas com o conselho dado pelo profissional. O que podemos considerar atitudes/reações previsíveis e normais.

Entretanto, para as que ficam e esperam os devidos esclarecimentos para tamanha falta de ética profissional e familiar, o psicoterapeuta explica que “amante é ‘aquilo que nos apaixona’. É o que toma conta do nosso pensamento antes de pegarmos no sono e é também, aquilo que, às vezes, nos impede de dormir”.

Só depois disso é que ele passa a descrever, no pensar dele, o que é, de fato, um amante. Necessariamente, não precisa ser alguém, mas, sim, algo. Então, se for alguém, não precisa ser um estranho, pode ser o próprio parceiro e, se for algo, pode ser um bom livro, uma boa música, uma vocação (escrever, fazer política, cozinhar, praticar um esporte, etc.), desde que seja aquilo que nos traga a sensação gostosa do namoro, da cumplicidade e do prazer.

Segundo ele, quando as mulheres optam por fazerem isso, esquecem-se de “durar” a vida, ou seja: elas passam a viver sem medo, evitam vigiar como os outros vivem, relaxam e não mais frequentam os consultórios médicos, consequentemente, deixam de tomar aquelas pílulas de várias cores, não se preocupam com as novas – e inevitáveis – rugas que se apresentam, passam a curtir o sol, ao mesmo tempo que a chuva é sinônimo de fartura e não de tempo feio e úmido, vivem o hoje e não se preocupam com o amanhã, pois compreendem que a morte é infalível, mas só leva na hora certa – nem mais nem menos.

Diante do exposto, eu fiquei pensando: se a moda pegar, teremos diálogos mais ou menos assim:

- Marido, fui ao médico e ele me receitou, com urgência, um amante.

- Está louca, mulher! Como é que você tem coragem de me dizer isso? Não tem medo que eu lave a minha honra?

- Calma, querido! O médico me receitou um amante, mas me deixou à vontade para escolher o tipo, por isso, eu escolhi, para começar, dois de uma vez. Um para o dia, outro para a noite. E quando eu terminar com eles, simplesmente, eu vou e troco por mais dois, ou três, ou quem sabe, quatro... Vai depender da minha disposição.

- É o quê?

- Querido, a vida é para ser vivida, e nada mais gostoso do que viver intensamente, fazendo aquilo que gostamos, na hora que gostamos, e com algo que nos dê prazer.

- Pirou de vez! Perdeu o sentido de perigo?

- Ter amante que nos distraia, nos fazendo esquecer as mazelas, os problemas e as eventuais preocupações cotidianas é a melhor opção. Mas, não se preocupe, eu não vou precisar sair – só quando for para trocá-los por outros – e, sim, vou trazê-los aqui para casa. É mais confortável. Assim, durante o dia, quando você estiver fora, trabalhando, eu me divirto com o que eu escolher para a parte da manhã ou da tarde. À noite, quando você estiver em casa e for dormir, eu aproveito e me distraio, até me dar sono, com o que eu escolher para o período da noite.

- Mulher, você acabou de pronunciar suas últimas palavras! Diga: como quer que seja o seu fim?

- Meu esposo, quero que o meu fim seja de paz, e para quando eu estiver bem velhinha, ao seu lado. Porém, só irei para o andar de cima quando eu terminar de assistir à coleção completa de filmes da Walt Disney.

O que se tira de lição, deste texto, é que devemos refletir sobre a necessidade de uma mudança de comportamento. Dar-se ao prazer de viver a vida de uma forma mais harmoniosa com o planeta – e consigo mesmo –, é desfrutar de seus benefícios, sem precisar se contentar apenas com as incertezas do amanhã, pois, segundo a psicologia, "para estar satisfeito, ativo e sentir-se feliz, é preciso namorar a vida."
 




Obs. Imagem da internet


 
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 13/12/2010
Reeditado em 20/03/2019
Código do texto: T2668623
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