A Sentença

Hoje estava tentando me lembrar do primeiro momento em que eu percebi que escrever faria parte de toda a trajetória da minha vida. Recordei o momento em que escrevi um poema desengonçado chamado “Amigos” para a Roberta, minha melhor amiga da quinta-série. Lembrei também da primeira série, quando eu escrevi o cabeçalho pela primeira vez... Cubatão, ... de fevereiro de 19..., mas creio que não foi nenhum desses momentos...

Forçando um pouco mais a memória, apareceu nos pensamentos a primeira professora do “parquinho” tentando me passar o exercício das vogais, ela me forçava a escrever com a mão direita, mas não deu jeito, ela não entendia que eu era canhota, ninguém faz um canhoto, se nasce canhoto, mas enfim, ainda não foi esta a hora, pensei eu.

Então foi que, vasculhando minha biblioteca achei um livro que conta a Vida de Jesus, este livro me acompanha desde o terceiro ano de vida, mais ou menos, quando meu pai ganhou de um Vicentino (vide significado dos Vicentinos no google, muito nobre a causa), tempos depois, meu pai também se tornou um Vicentino, bom, mas voltando ao assunto... Neste livro havia mais ilustrações do que texto, e eu lembrei que embora o livro tivesse mais figuras que palavras, o que me chamava mais atenção era a colação das letras que se transformavam em um sentido só, coisa muito estranha de se acontecer com uma criança por sinal, não acham? E eu gostava muito do formato do texto, havia uma vontade muito grande de entender aqueles símbolos juntados (sim, porque eu já sabia que aquilo tudo tinha um propósito, de alguma forma) os olhos brilhavam mais pelas letras que pelas cores, porque as cores, eu enxergava dentro das letras, e no fundo, eu sabia que, se conseguisse entender o que elas diziam, eu saberia pintar meus próprios quadros (ilustrações), um dia. E sim, este foi o primeiro momento.

Ana Nery Machado

15/12/2010