Enfim, minhas panelas !

Parece-me um assunto meio bobo, mas há quem fale de pés, de ronco, ou até de lixo, esse último, um texto muito bom de Luiz Fernando Veríssimo.

Então vamos lá com minhas panelas.

Panelas é uma coisa que ninguém deveria dar de presente de casamento. Se bem que, nos casamentos modernos, os noivos se veem no direito de fazer lista de presentes e até de colocar no convite a opção da loja onde podem ser adquiridos. Se por um lado procura-se a praticidade de não se repetir presentes e outras conveniências, por outro, tira-se completamente a expectativa da surpresa dos noivos e, dos convidados, o prazer de escolher o presente, na tentativa de ser o mais original possível.

Já explico minha verdadeira aversão por presentear com panelas àqueles que se casam.

Primeiro porque panelas não são presentes, pois já são vistos como uma imposição: “Você pagará seus pecados na cozinha, cozinhando e lavando panela todos os dias de sua vida”. Não há mulher que não saiba disso, pois ainda que trabalhe fora, a cozinha literalmente lhe pertence. Já que nos incumbiram de tão exaustiva missão, pelo menos que guarneçam o nosso espaço com equipamentos dignos.

Segundo, porque quando me casei, há dezoito anos, adivinhem qual presente mais ganhei? Panelas! Panela de pressão, jogo de panelas, panela de fritar batatas (alguém usa uma panela dentro da outra, só para sujar mais uma panela?) nunca usei a minha.

Já perceberam como os jogos de panelas são atrativos, brilhantes, convidativos e, principalmente, baratos? Sem dúvida um bom presente!

Também ganhei um desses, só que na prática é outra coisa. As panelas são frágeis, fininhas, e amassam só de olhar para elas. Logo no primeiro ano de casamento, algumas de minhas panelas já haviam perdido o cabo. Mais alguns anos e as tampas já se encontravam tão amassadas que não conferiam segurança alguma para os alimentos ali guardados. O fundo já não tinha forma, aliás, com o passar dos anos adquiriram uma forma oval que, para permanecerem em cima dos crivos do fogão, tinham de ser amparadas por escoras.

Assim, comprar panelas era um assunto proibido lá em casa. Tínhamos tantas. “Por que um gasto desses com uma coisa que tem aos montes lá em casa?” Cá entre nós, o sonho de consumo de toda mulher que se preze, como boa esposa e boa mãe é ter na cozinha um excelente jogo de panelas. Não vale ser um bom jogo, tem de ser excelente.

Finalmente, chegou o dia da minha desforra. Ganhei meu tão sonhado jogo de panelas. Está pensando que foi o digníssimo marido? Que nada! Maridos não compram nossos sonhos domésticos! Eu mesma dei-me ao luxo de presentear-me. Demorou, mas valeu a pena! Escolhi a dedo, o melhor, o mais bonito, mais eficiente e mais brilhante jogo de panelas da exposição.

Estou me exibindo duplamente, primeiro por expô-las em cima do fogão. Lindas, maravilhosas, espelhadas!... Segundo porque na hora de lavar não preciso arear, elas já possuem um brilho próprio, são inoxidáveis. Chique, não?