Ambiente hostil
É isso aí, bravo bandeirante. Tome seu elmo, afie a espada, carregue seu bacamarte e leve tabaco, querosene e farinha.
Você está prestes a desafiar a fauna bravia de um lugar hostil, onde a chuva dá lugar ao sol escaldante, onde a poeira entra pelos olhos e seca a garganta, onde vivem as piores espécies que já conheci.
Observe os selvagens, com seus óculos escuros, mexendo os dominós sobre a banca. Note como o baralho corre rápido naquela roda de luta mental, onde os trapaceiros brindam antes beber o sangue dos incautos, quando é chegado o final.
Cuidado com os caciques, pois são os piores. Amam o poder, tentam aniquilar seus inimigos e devorar-lhes a carne. Tentam incorporar os espíritos num misto de antropofagia e cobiça.
Do alto de seus gabinetes, estraçalham uns aos outros, feito vira-latas por um único osso. Mas na verdade são piores que os cães, pois possuem bedéis e golems para o serviço realmente sujo.
Pise com cuidado, aprecie as mulheres, mas não exponha o pescoço.
Então vá desbravando. Aprenda em meio à multidão, faça parte da mistura fina daquela massa. Daí em frente, você estará apto a fingir, a ostentar tudo aquilo que não possui, a dar mais valor na roupa que na ração. Começará a olhar unicamente para frente, com o nariz apontando para cima e, quando notar que já está pisando no sangue, vai se preocupar somente em não sujar os sapatos novos. Isso se chama adaptação. E nem pense em fugir. Na verdade você vai sair desse inferno, mas ele nunca sairá de você.