GOSTO SE DISCUTE?

"O gosto se discute sim. O gosto é um acumulo de cultura, de tradição, de senso de reflexão, de capacidade de criticar, de senso crítico. Tudo isso acura, ou atrofia o seu gosto. Então gosto se discute sim, e a nossa sociedade é uma sociedade de mau gosto. Pessoas com grana cometem aberrações, de arquitetura, comportamento e tudo mais". (Lobão)

Cresci, assim como, acredito, a maioria de vocês, ouvindo que "gosto não se discute". O termo introjetou em nossas mentes de tal forma que, muitas vezes, sem nos darmos conta, fugimos de uma discussão pela tangente do "gosto é gosto", "punto e basta"! Com certeza inventaram esse jargão para evitar choques ideológicos. Porque é melhor encerrar o assunto do que ir às vias de fato e matar ou morrer por uma idéia.

Acontece que o ser humano tem necessidade de conhecimentos e só se aprende comparando, trocando, interagindo. Conclusão: volta e meia estamos discutindo gostos! Talvez ninguém convença ninguém, mas é da troca de opiniões antagônicas que somos levados à reflexão e, muitas vezes, até a rever nossos valores. Muita gente diz que não se deixa influenciar, mas eu acredito que somos influenciados, diariamente, sem nos darmos conta. Os meios de comunicação são um exemplo típico: até mesmo as novelas influenciam no comportamento e alteram nosso gosto.

Gosto é algo muito pessoal. O que para uns é de bom gosto, para outros é de extremo mau gosto. O mau gosto talvez até se preste mais à discussões que o bom gosto. Mas o que diferencia o bom do mau gosto? Para mim, por exemplo, aquelas mensagens de aniversário com um carro de som em frente a casa do aniversariante, para todo o quarteirão ouvir, é de extremo mau gosto. Porque os outros não têm obrigação de ficar ouvindo músicas que só o presenteado gosta... E, afinal, nem foram convidados! Pois bem, eu tinha uma vizinha que a cada aniversário na família, lá vinha o tal som a todo vapor e ela achava isso o máximo! Agora sossegou, acho que caiu de moda!

Outra coisa que eu não gosto é aquela história dos três beijinhos, porque se não é mau gosto, no mínimo é exagero! Mas tem gente que faz questão e diz que é "para casar". Talvez seja por isso que eu não goste, pois casamento, como diz Roberto Carlos, "não é papo prá mim".

O gosto, mau ou bom, faz parte da estrutura sócio-cultural a que o indivíduo está inserido. Eu, por exemplo, das 10 edições do BBB, assisti apenas uma, creio que em 2004, e para mim deu! Mas, pelo que tenho ouvido, a maioria das pessoas assiste. Inclusive colegas minhas! E ao meu ver, o mínimo que se espera de um professor é que ele tenha discernimento para saber se aquilo acrescenta, ou não, alguma coisa em sua vida.

Por outro lado temos exemplos, especialmente no meio musical, de cantores ou bandas que souberam explorar o dito "mau gosto" e se transformaram num sucesso estrondoso. Foi o caso dos Mamonas Assassinas. Onde estava o bom ou o mau gosto aí? Estava na inteligência dos garotos! O grupo, com bom humor e conhecimento, parodiou o mau gosto e caiu no agrado dos intelectuais brasileiros.

Como se vê nada é absoluto nesta vida. Bom e mau gosto são relativos e variam de pessoa para pessoa, de suas vivências, de sua visão das coisas. Não estão associados a nível social mas, sim, a bagagem cultural.

Giustina
Enviado por Giustina em 30/12/2010
Reeditado em 24/02/2014
Código do texto: T2699121
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