BATMAN OU ZORRO ?
Vida de botequeiro não é moleza, não - podes crer freguês! Diuturnamente trabalhando atrás do balcão, sem perceber a pessoa fica irritadiça, ao ponto de tirar veneno. Em certos casos, até cisma de resolver os problemas partindo para o confronto físico. A popular porrada! Nada obstante, uma coisa jamais termina do jeito que começou! Como não dar razão ao Nilson, gente fina, dono de bar, e de pavio curtíssimo? Após mais um dia aguentando a chateação dos frentistas do posto de combustíveis da Cooperbom, ali de lado, encerrava ele o expediente imaginando chegar em casa, tomar banho, cair na cama, e... Quando da Casa do Forró, situada a um quarteirão da sua porta, vieram dois sujeitos que entrando logo bateram as bundas nas cadeiras. - Me arranja meia dose de pinga! Solicitou o priemiro. - Pra mim, é um cigarro picado! Pediu o outro. “Eu mal conseguindo parar em-pé de cansaço, fora de hora me aparecem estes dois pangarés, que já gastaram a grana que tinham noutro comércio, vindo conversar fiado e foder meu programa...” murmurou para si o botequeiro. Os boêmios, porém, ouviram e não apreciando nem um tiquinho, se encresparam. Como o Nilson não é de engolir desaforos, e os dois fregueses retardatários lutavam caratê... o bar fechou por uma semana – com o proprietário de ataduras até o pescoço!
Não creio nestas coisas do Além, mas pra continuar servindo à freguesia com sua marca registrada - a eficiência - o vendedor carece duns saravás! Sexta-feira, tardão da noite, seu concorrente Galo Cego trancou o Galatikus Bar e foi beber a saideira no balcão do colega. Não só a galinha, também a cerveja do vizinho é mais gostosa! Tempo nenhum e o Juninho Meia-boca pintou no pedaço pilotando sua picape estilosa, com uma namorada nova na cabine. O som do carrão dele mata de inveja muita dupla sertaneja. - Nilson, esquenta uma porção de carne de porco com mandioca e desce a loura mais gelada, que hoje eu não tou bem intencionado - não! Festejou o rapaz. Correu tudo nos conformes, até o fechamento da conta. - Sete reais! Leu o dono do bar, num pedaço de papel. - Deixa por cinco, que é o que eu tenho trocado no bolso? Pechinchou o freguês. - Não dá, amigão. Rebateu, ainda mais ou menos calmo, o Nilson. - Quer dizer, insistiu o Juninho, tenho uma nota de vinte, mas é pra farrear no motel, ocê tem troco? - Manda pra cá. Cortou o barman, sentindo-se desprestigiado.
O Juninho Meia-boca pagou a despesa com a nota de vinte, juntou o troco, a moça e escafedeu-se. Nem passara meia-hora, de novo a picape cantou pneus na porta do bar e o motorista desceu nervosinho. - Ocê fez a conta errada. Tá faltando dinheiro. Deu pra ficar só uns minutinhos na suíte principal. - Vinte, menos sete, são treze! Refez de cor a operação, já sem nenhuma paciência o Nilson, dando o caso por encerrado. Contudo, nesta altura do quiprocó o Juninho havia tirado a camisa, exibindo um punhado de cobras e dragões desafiadoramente tatuados pelo corpo. No estalo, à semelhança de um ninja voador, o botequeiro saltou o balcão já metendo os pés no peito do desafiante, rolando ambos por entre mesas e cadeiras. Ao invés de apartar, o Galo Cego vibrava: - Dá no olho, que eu quero ver! Entre socos e chutes, arrastando a churrasqueira, os dois gladiadores saíram para a rua. Só então, como nos velhos filmes de faroeste, chegou a pacificadora sétima cavalaria – ou melhor, os frentistas do posto de gasolina.
Sábado à tarde, com desculpa de ver o jogo do Cruzeiro fui beber umas cervejas no Bar do Nilson, encontrando o botequeiro de boné e óculos escuros. - Quem te atropelou? Provoquei. - Vou te contar, antes que aquela cambada de bombeiros vagabundos, aumente tudo. - Briguei. Bati e apanhei! E já de bom humor quis saber: - Tou parecendo com o Batman ou com o Zorro? - Pra mim tá mais pro Robin! O menino prodígio! Sacaneei, já da rua, enquanto uma garrafa jogada por ele passava zunindo pela minha cabeça.