Universo virtual e eu

Quem lê meus textos, já percebeu com certeza, que muitos abordam o virtual, da vivência e convivência através da Internet. Isso, dentro da minha realidade recente, encontra explicação lógica e racional.

Desde onde minha memória alcança, sempre estive rodeada de pessoas. Muitas pessoas. Pais, irmãos, avós, tios e tias, primos, sobrinhos, filhas, marido. Havia as relações de trabalho. O trabalho, de atendimento ao público. Centenas de pessoas indo e vindo diariamente. Sempre muita adrenalina.

Com o passar do tempo, as atribuições diminuem. Acontece um processo inverso, muito rápido. Aposentadoria, filhos que saem de casa. De certa forma, ficamos descompensados.

Um ciclo que levou meio século, ou mais , para se completar, rompe-se muitas vezes, de um momento para outro, sem aviso prévio.

Durante esse ciclo, de certa forma nos despersonalizamos. Mesmo quando seguimos a profissão desejada, estamos trabalhando constantemente para satisfazer aos outros. Na família, em sociedade, tudo é em função dos outros. É balela afirmar que se pode fazer uma “banana” para o que os outros pensam. É cultural. Faz parte da convivência entre o gênero humano.

Quando percebi que estava substituindo algumas coisas por outras, angustiando-me à cada dia, mais e mais, compreendi que o primeiro ciclo da minha vida estava concluído e que eu precisava construir novas perspectivas. Mudei conceitos, venci preconceitos. Parti em busca de um recomeço. “Chutei o balde.”

Pela primeira vez, fiquei sozinha. Com tempo e espaço para chorar minhas mágoas, pensar e repensar, analisar e revisar erros e acertos.

Passados alguns meses dessa nova vida, estava pronta para dar meus primeiros passos em busca de novas relações, novas amizades.Aí que entra a Internet.

Embora não pareça, sou um pouco tímida, inibida. Levei algum tempo para formar um círculo de amigos, nesse novo mundo que descobri.

E nesse novo mundo, descobri em mim, alguém que estivera escondida sob a poeira do formalismo, da mesmice e da hipocrisia que faz de nós, as pessoas que parecemos ser.

Nesses quase 5 anos, vivi momentos e situações que me proporcionaram auto-revelações que eu levaria décadas para descobrir, mesmo que continuasse com a terapia.

Por isso que meus textos geralmente têm a ver com o espaço virtual. E é por isso que eu repito que sabendo usar, a Internet enriquece, mas nunca substituirá o espaço real.

No momento certo, ter lucidez e discernimento para voltar a priorizar o lado de cá do monitor é fundamental, porque senão, voltamos a nos despersonalizar, assumindo os personagens que “vestimos” ao entrarmos no mundo virtual.(24/10/06)