À DERIVA

Tantas foram e são as subidas, descidas, curvas, capotadas, labirintos... Que o sentimento real é a deriva. Os anos passando e cada vez mais perdendo o leme. Sentir as feridas fechadas abrindo-se novamente e outras novas que não teriam que existir. Palavras afiadas como facas mortais a derrubar, a sangrar. Um dedo em riste só a apontar os defeitos de uma mãe que só tentou acertar. Que abriu mão dos sonhos, dos dons por opção e por puro amor, mas que se magoa em se sentir tão sugada, tão pisada, tão julgada. Esse amor é o mesmo? Não. O amor também modifica-se, diminui, transforma-se, talvez até acabe. Necessidade do grito, da partida definitiva, da morte. Desistir mil vezes por dia, mil anos em cada hora. Ahhh...Cansaço da alma, do espírito...De séculos carmais. Vida que pisa, massacra e usa o fruto de seu próprio ventre para ser o seu pior inimigo. Medo de sair além do portão, pavor de dividir o mesmo teto. Porque VOCÊ partiu e deixou aqui tão sozinha a mercê daquele que ocasionou seu desejo de parar de viver, uma mulher abrindo nas costuras? Não foi justo para ambos a sua partida a abandonar quem só fica a cada segundo mais frágil. Esse punhal invisível de fio tão letal em forma de atitudes, palavras tão profanas, acusações de quem sabe ser tão vil. Não haverá paz nunca !!! A morte é a paz? Quem garante? Não se morre quando se deseja. O corpo deseja o leito e o sono da fuga aonde só habitam pesadelos de destruição, de saudade e de muito choro. A auto clausura da desilusão. Mil noites insones e mil dias jogada dentro de paredes do fim do mundo de seu desespero. Confusão mental e sentimental. Quem era a imagem no espelho? Como saber. Uma estranha. Um fastasma...O espectro de alguém que julgou talvez ter existido, mas era só ilusão e como toda ilusão, esfumaça-se e some como o nada que descobriu ser...Antes tarde do que nunca.

Claire Fernandes
Enviado por Claire Fernandes em 20/01/2011
Reeditado em 23/10/2011
Código do texto: T2740436
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