GUISADO DE TATU

Passeando pelo apetitoso “site” do colega Dilermando Cardoso, aqui no "RDL", mineiro de Bom Despacho, topo com um texto formidável, “Farofa de Tatu”, o qual logo me trouxe à memória o velho e saudoso “Seu” Jorge, pai do meu grande amigo Geraldo Sampaio, alagoano de Palmeira dos Índios, sangue bom que conheci no Recife lá pelos anos 70.

O “Seu” Jorge, hoje habitando os campos superiores, tinha fazenda com plantação de tabaco em Arapiraca, nas Alagoas, mas a família morava no Recife, onde quase sempre ele se achava, para o aconchego da esposa e filhos diletos. Nos feriados prolongados, então, sua presença era certa e, na praia, fazia caminhada com os filhos homens enquanto a “Santa” Maria, como ele chamava sua mulher, curtia a areia de Piedade junto às filhas e aos netos.

Eu, amigo de fé do Geraldo, seu filho mais velho, já estava enturmado e nutria grande amizade por todos, mormente pelo “Seu” Jorge. Adorava sua prosa, seus “causos”, seu espírito alegre e comunicativo. Nas caminhadas de Piedade a Boa Viagem, coisa de uns dez quilômetros ida e volta, ela seguia observando o mulherio na praia se tostando e não economizava os comentários jocosos:-

“- Olha lá, aquelas ali estão se bronzeando, passando óleo, creme e se cuidando. Enquanto isso os maridos estão na batalha, correndo atrás do “dindim” pra sustentar a família, ralando feito doidos. E de noite elas vão relando nos seus homens, querendo fazer piar a jurupoca. Mas os coitados estão no bagaço e só querem cama pra dormir, no que são taxados de “frouxos”, etc. e tal. É mole? Vê a responsabilidade do sujeito? ...” – e soltava a sua gargalhada descomunal, contagiosa, chamando a atenção dos banhistas.

Certo dia, sentados na areia após a caminhada, tomávamos umas cervejinhas e batíamos um papo gostoso, falando sobre carnes de caça.O Soutinho falou que a carne de veado, experimentada por ele, era meio adocicada, mas saborosa. O Geraldo riu e tirou um sarro com seu cunhado, deixando o moço nervoso e encabulado. Soutinho ergueu-se e grunhiu:-

“- Cara, eu tou falando de “veado” e não de “viado”, tá certo? Và à merda, sô!”

E a prosa seguia animada, cada qual dizendo que tipo de caça já havia experimentado. Foi quando me lembrei dum tatu caçado pelo meu saudoso Padrinho Fulô, nos meus tempos de menino no Cedro, cuja carne foi cozinhada pela Tia Judite, acompanhada de arroz, batatas e farofinha, uma delícia. Comi feito um padre! ...

Aí o “Seu” Jorge entrou em cena, falou da tatuzada que havia lá em Palmeira dos Índios, sua terra, em Arapiraca também e prometeu:-

“- Robertão, da próxima vez que voltar ao Recife trago um tatu pra cozinharmos aqui e comermos nesta praia, combinado? Você topa? ...”

“- Ora, “Seu” Jorge, é claro que eu topo. Negócio fechado, o senhor entra com o tatu e nós com o apetite, né mesmo, gente?” – no que o Geraldão falou que as ampolas de “Brahma” correriam por sua conta.

Passaram-se uns quinze ou vinte dias, eu já tinha até esquecido do assunto, quando batem a campainha do meu apartamento pela noitinha e era o compadre Geraldão, vizinho do lado, sorridente e sacudindo um telegrama:-

“- Olha aí, Robertão! Leia você mesmo!” – tomei o papel e li em voz alta, de modo a que a Dona Mari, vendo novela na “TV”, tomasse conhecimento:-

“- CHEGO SÁBADO PRÓXIMO vg LEVO TATU COMIGO pt AVISE ROBERTO pt JORGE”

Deixo vocês com água na boca, por enquanto é só. Numa próxima crônica eu conto como foi a “tatuzada” ! ...

B.Hte., 20/01/11 -o-o-o-o-o-

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 20/01/2011
Reeditado em 24/01/2011
Código do texto: T2741704
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