MEU EPITÁFIO

MEU EPITÁFIO

Hoje resolvi escrever meu epitáfio. Pode parecer estranho, mas morrer é algo que quase diariamente perpassa meus pensamentos, pois já que a morte é inerente a nós, porque não fazer dela um fato prazeroso?

Li um livro que até o título me encantou, por conter uma profunda verdade: “Morrer não se improvisa”. Já pensou o quanto isso é verdadeiro? Porque então ter medo de pensar na morte ou em como queremos morrer, se é algo do qual não vamos poder fugir? E se não estivermos todos os dias preparados para recebê-la, como iremos fazer quando ela chegar? Será que dá tempo improvisar?

É por isso, que quero compartilhar com vocês, como imagino que vá ser minha transposição de alma:

Primeiramente não quero ter uma morte rápida e violenta, daquelas que ocorrem em acidentes. Quero morrer de uma doença, como o câncer, por exemplo, pois acredito que ela vá me dar um tempo de reflexão, de encontro com meus entes queridos, vai me conceder a dádiva do sofrimento, que nos faz mais fortes e experientes. Ela vai me conceder o tempo de chorar, sorrir, amar, beijar, abraçar e principalmente fazer o que estou fazendo agora e que é o que mais amei fazer nesse plano espiritual “escrever”. Com a doença, vou ter um encontro profundo comigo mesma, com o que acreditei ser certo nessa vida, com os inúmeros erros que cometi. Quem sabe até tenha a chance de concertar alguns, pedir perdão para as pessoas que magoei, dizer que amei viver, que amei a natureza, o sol, a lua, as estrelas e o mistério de acordar todos os dias e ter a chance de recomeçar.

Sei que vou saber que fraquejei muitas vezes, que fui “humana demasiada humana”, apegada à matéria, algumas vezes fútil, fraca na carne, mas também vou saber que fui privilegiada por ter consciência desses fracassos e que lutei diariamente para ser melhor e acima de tudo, que amei muito a DEUS, ou seja, lá que nome Ele possa ter.

Tive a oportunidade de ser o veículo do nascimento de duas vidas na terra. Sei que falhei algumas vezes como mãe, mas vou saber que dentro das minhas limitações, lutei para torná-los seres humanos mais nobres. Não sei quando a morte virá ao meu encontro, não sei se verei netos, mas se isso acontecer, quero passar a eles algumas experiências e quero com eles aprender como a vida se repete, podendo observá-los e ver onde eu poderia ter sido ou feito melhor.

Hoje próxima de completar 40 anos, vejo como as ilusões terrenas me causaram e ainda me causam tanto mal. Não sei sinceramente se é um mal necessário, já que nos desperta para muitos outros caminhos, só sei que foi alto o preço que paguei por elas.

Hoje vejo o quanto fui e muitas vezes ainda sou egoísta, gananciosa, o quanto tive e algumas vezes ainda tenho, inveja de outras vidas, porém louvo por ter apanhado da vida sempre que sucumbi a esses sentimentos.

Hoje sei que me desviei do meu dom e peguei o atalho errado, ofuscada pelas moedas de ouro do pote no horizonte, só para então descobrir, que a final, as moedas eram apenas flocos de milho ao sol. Contudo, acredito que ao final vai ter valido a pena tudo que vivi e viverei, pois vou passar para outra forma mais elevada, mais sábia.

Não quero enterro e nem por hipótese alguma velório. Quero ser cremada, virar pó e ser solta no alto da serra, em meio à natureza, com muitos pássaros cantando, numa bela manhã de sol. De preferência, quando o dia estiver acordando, pois o alvorecer é algo que me encanta e eleva minha alma a uma grande integração com a amplidão. Acho o amanhecer o maior milagre diário.

Quero que esse ritual seja feito apenas por meus filhos, meu pai e minha mãe se ainda estiverem aqui e pelas poucas pessoas que verdadeiramente me amaram na Terra, que me aceitaram como pude ser. Quero música tocando o tempo todo, pois ela é um bálsamo que me aquieta. E por fim, quero deixar as seguintes palavras para lá serem pronunciadas em meu nome:

“Saibam a quem poder interessar, que estive aqui no planeta Terra e pude experenciar o amor e a dor; alegrias e tristezas. Como todo mundo busquei ser feliz. Errei muito, mas também fiz o bem. Sonhei acordada e “de quimeras mil um castelo ergui”. Fui alguém que duvidou e questionou; procurei porquês; fiz minhas próprias crenças e desfiz muitas também. Gostaria de ter amado mais e de ter sido mais amada, não sei que mistérios envolvem esse sentimento, nem porque ele é tão abundante para uns e tão escasso para outros, porém valeu.

Fui... Fui... Fui... Para agora Ser. Ser essência. Ser luz. Ser energia. Ser pó. Ser tudo. Ser toda. Ser eu. Ser tu. Ser o Todo”...

IAKISSODARA CAPIBARIBE.

IAKISSODARA CAPIBARIBE
Enviado por IAKISSODARA CAPIBARIBE em 26/10/2006
Código do texto: T274349