PROMESSAS NUNCA MAIS!

Primeira crônica de 2011. Para mim, uma responsabilidade imensa. Mas, o que dizer nesta primeira crônica? Repetir as promessas dos anos anteriores – e não cumpridas no ano que se passou – ou refletir sobre as ações não cumpridas e tentar entender por que é tão difícil cumpri-las, até mesmo parcialmente?

Não sei. Sinceramente, eu não gostaria de prometer mais nada. Às vezes, eu me olho no espelho e me vejo diferente do que era. Por um lado, recordo-me que a reiterada promessa de não cometer o pecado da gula não foi cumprida e que a forma arredondada da minha cintura deve-se, justamente, a isso. Mas, por outro lado, eu percebo que o tempo passa e que, por mais que tenhamos controle sobre o que comemos ou deixamos de comer, um dos prazeres que temos na vida é, justamente, o ato de saborear um bom prato de comida – principalmente, num país que ainda é instável no ponto de vista econômico. Portanto, aproveitar os sabores da culinária passa a ser indispensável no nosso dia a dia. Assim, eu me conformo e não vou mais fazer promessas do tipo: “este ano eu vou voltar a caminhar, comer pouco e balanceado, e não vou exagerar na panelada do final de semana”.

Da mesma forma, eu não vou prometer que, a partir de agora, eu vou sair de casa para ir aos eventos que, todos os anos, eu postergo para o ano seguinte. Não. Eu até que tenho ido – a alguns –, porém, as poucas vezes que vou, eu não vejo graça nenhuma em ouvir a mesma falação, os mesmos cochichados de bastidores e, principalmente, as retóricas que se perdem – assim como se perdem os sorrisos dados apenas para acompanhar o olhar de quem ainda se empavona com a mediocridade de vassalos ávidos pelo quinhão que lhes cabe na fatia do bolo.

Eu, sinceramente, não sei viver de promessas. Pelo menos as que eu faço para mim mesmo. Agora, eu costumo cumprir com os pedidos a mim feitos. Neste caso, entra, em mim, a questão da palavra empenhada, o orgulho de não quebrá-la, o caráter que me individualiza perante os demais, enfim, da mesma forma que eu acho bom ver, dos amigos, as promessas cumpridas – maior prazer me dá, cumprir os pedidos a mim feitos.

Todavia, a cada ano que passa, nós apenas nos lembramos daquilo que deixamos de fazer. De certa forma, isso se torna mais fácil para o nosso “subconsciente punitivo” registrar, pois elenca apenas uma fração daquilo que realizamos – ano após ano – no nosso cotidiano. Contudo, aquilo que fazemos automaticamente, sem ser preciso registrar com promessas ou pedidos, é, na verdade, a maior virtude que cada um de nós carrega em sua vida.

De modo que, a partir deste ano (lá vem a promessa de novo!), eu vou apenas cumprir com as tarefas que eu já costumo cumprir, sem ter que, para cumpri-las, fazer promessas para tanto. Ou seja, eu vou passar a valorizar aquilo que eu faço sempre – como sendo prioridade –, sem me preocupar com a questão de, para fazê-lo, ser preciso dar destaque ou registrá-lo em um arquivo que vai, no fim de cada ano, apenas nos mostrar que deixamos de fazer aquilo que nos propusemos a fazer, mas que não registra tudo aquilo que realizamos.

Vejam como é simples de entender essa lógica: se tudo aquilo que elencamos, como promessa – no ano que passou –, se ao chegarmos ao final dele e sairmos dando baixa nos itens, um por um, e percebermos que cumprimos fielmente com todos eles, ótimo, devemos nos dar os parabéns, pois além de cumprirmos com as nossas obrigações normais, nós ainda incorporamos outras e, disciplinadamente, conseguimos realizá-las. Porém, se apenas cumprimos com a metade delas, ótimo também, pois a metade que não foi cumprida deve ter sido em virtude dos obstáculos naturais de um transcurso de doze meses que não nos deixou outras opções de realizá-la. Neste caso, qual é a melhor solução para não ficar se punindo por não ter cumprido com todas as promessas? É não fazer mais promessas e tentar cumprir com a metade que ficou faltando do ano passado.

Por isso que eu vou priorizar, este ano, os prazeres. E são muitos os prazeres que terei de priorizar. Mas eu quero que o meu cérebro registre cada um deles para que, da mesma forma que o subconsciente nos pune por algo que deixamos de realizar, esse mesmo subconsciente registre cada um dos prazeres que eu consegui realizar e, com isso, ele multiplique a minha satisfação pessoal.

E o que são esses prazeres? - alguém pode perguntar. Elementar, meu caro leitor. Esses prazeres são todos aqueles advindos da troca que fazemos no dia a dia da vida. Por exemplo: para se tomar um bom banho, antes é preciso estar em dia com a conta da água; para se ler um bom livro à noite, não se pode deixar cortar a luz por falta de pagamento; para conversar com um amigo distante, tem que se ir para a fila do caixa eletrônico e lá passar o boleto da empresa de telefonia... Ou seja, obrigações que nós temos de cumpri-las todos os meses, mas que não enxergamos os prazeres que essas obrigações nos propiciam a cada minuto de nossa existência. Vamos aos prazeres diários!





Obs. Imagem da internet
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 23/01/2011
Reeditado em 18/04/2019
Código do texto: T2747059
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