Prato feito

Saudosista? Eu?! Ninguém gosta do termo “saudosista” se isto implicar ser daqueles que dizem “no meu tempo é que era bom”. Esta antipatia toda se sustenta enquanto não contamos a alguém os nossos passos do passado. Continuo preferindo o presentão que é o presente, mas com a brandura de quem sabe ser tecido o pano da vida do fio de nossas experiências.

Outro dia me peguei caminhando por antigos caminhos. Trilhados lá pelos vinte anos. Logo após me formar trabalhei em uma empresa que funcionava numa casa antiga.  Localizada em uma alameda de plátanos, calçada de paralelepípedos, do lado de fora parecia aos olhos moços tão altaneira e austera quanto era o ambiente em que trabalhávamos.

O salário, nem preciso dizer, era miúdo, mas éramos chamados de doutores pra cá, doutores pra lá. Em razão disso nos divertíamos bastante com o contrastate da pompa e do pouco dinheiro no bolso. Alguns de nós almoçávamos em um restaurante que de tão econômico não tinha nome. A comida era boa, bem caseira, mas não cabia repetição.


Ia descendo a rua perpendicular àquela alameda, não resisti, voltei alguns metros para espiar a casa. Agora encolhida, com tijolos aparentes, diferente de quando tudo aquilo tinha seu charme. A alameda. As árvores. A casa. A comida. Os colegas. A severidade do chefe que há muito se desfez em luz. Aí bateu uma nostalgia imensa. Se coubesse repetição, como o mito de Ariadne, teceria tudo novamente. Com bons e maus. Teceria até com o que eu fui.

meriam lazaro
Enviado por meriam lazaro em 25/01/2011
Reeditado em 18/11/2011
Código do texto: T2750603
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.