No retorno a casa, sonhou com Deus. Dia de cão.

No retorno a casa, sonhou com Deus. Dia de cão.

Chegamos a casa após interminável tempo internado a espera de ser adotado.

No caminho a menininha me apertava tanto, só aliviava quando gemia.

Ainda estava dolorido, mas recuperado daquele quase fatal atropelamento. A felicidade era tanta que as dores nem incomodavam muito.

O carro entrou na garagem e logo eu já estava correndo pelo quintal fazendo o reconhecimento do território.

Tudo parecia como era antes, as coisas nos mesmos lugares, só o meu cheirinho nas coisas que estava quase imperceptível. Comecei a demarcar meu território outra vez.

Ela preparou meu banho.

Separou meus produtos, encheu a piscininha que alegremente refletia o sol e cuidadosamente com sua mãe, me colocaram dentro.

O banho foi longo e delicioso. Estava outra vez cheiroso, sem nenhuma pulguinha e olha que eram muitas e incomodavam bastante.

A menininha autorizou minha entrada na casa.

Entramos.

Encontrei meu potinho de alimentação cheinho de ração, elas tinham acabado de enchê-lo com aquela que eu adoro.

Comi até me fartar e ao lado encontrei minha água fresquinha. Estava com muita sede, tomei com tanta fúria que elas riam do barulho que fazia com a língua chicoteando a água espirrando-a para todo lado.

Quando me saciei, lambi as pernas delas em agradecimento e fui para minha caminha toda acolchoada, diferente do chão duro da gaiolinha com jornal todo molhado.

Enrolei-me em mim mesmo e percebi o quanto estava cansado, esgotado. Foram longos dias de estresse, dores e saudades. Parece que existem dias com muito mais horas que outros.

Iria dormir como há muito não fazia.

Agora protegido podia dormir o sono dos justos.

Adormeci sono profundo daqueles que ressonamos, suspiramos e até roncamos.

Sonhei.

Em meu sonho, retornei ao local onde a menininha foi me buscar, o pátio cheio de animaizinhos.

Chegando lá, Deus estava à porta. Pairava a uns dez centímetros do chão.

Perguntei o que estava fazendo ali, ao que respondeu ter retornado para abençoar a todos os cachorrinhos como fizera comigo.

A face de Deus estava luminosa e serena.

Tenho certeza da admiração de vocês. Os humanos não podem ver a face de Deus, mas nós os animais O vemos, por que somos puros e não temos o pecado original, aquele que afastou o homem Dele.

Se um dia vocês olharem Sua face, verão como é bela, luminosa, serena e a paz que Ela transmite.

Ele passava pelas paredes, mas me aguardava até chegarmos ao pátio.

O pátio estava com poucos cachorrinhos e Ele disse que até o final da tarde deste domingo, todos os animais seriam adotados.

Ficamos algum tempo até que o local ficou completamente vazio.

Realmente todos foram adotados.

Quando houver outros, adote um.

Antonio Fernando Ribeiro
Enviado por Antonio Fernando Ribeiro em 29/01/2011
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