QUARENTA E DOIS ANOS E MEIO
 
Fátima Irene Pinto
 
Não sei se quero viver tanto assim, mas se eu vivesse mais quarenta e dois anos e meio, seria tempo mais que suficiente para ver o inimaginável.
 
Veria a Terra na mais franca rebelião contra todas as transgressões que a civilização lhe impôs, mas quem sabe também a veria, depois disto, completamente regenerada nas suas riquezas, na sua integridade de planeta azul, jóia do universo, em serena órbita ao redor do sol.
 
Veria a humanidade transformar-se, mesmo que através e após um batismo de coletiva dor, em núcleos de seres conscientes, humanitários, naturalmente bons e capacitados  para inaugurar uma nova ordem mundial.
 
Veria, talvez, o fim das falsas, desumanas e equivocadas lideranças sociais, políticas, econômicas e religiosas.
 
Veria o fim do capitalismo selvagem e de todas as desgraças que os homens fizeram em nome desta insanidade que tem jogado homem contra homem, nação contra nação, numa corrida louca pelo poder e pela supremacia, na competividade desmedida que instaurou o caos em todas as instituições, das mais simples às mais complexas.
 
Veria de volta os pais tendo tempo e amor para dedicar a seus filhos, 
filhos tendo amor e respeito para com seus pais, maridos vivendo para suas esposas e esposas vivendo para seus maridos, veria o ressurgir de um novo conceito de lar, como célula mater sadia, completamente imune a qualquer tipo de crueldade ou distorção.
 
Por conseguinte, veria também o fim dos asilos, orfanatos, albergues ou qualquer outra instituição destinada a recolher os que são considerados um peso morto ou um impecilho ao "status quo".
 
Em quarenta e dois anos e meio de vida, a contar de agora, talvez houvesse tempo o bastante para seccionar da humanidade os que mentem e ensinam a mentir, os que roubam e ensinam a roubar, os que matam e ensinam a matar, os que se prostituem e ensinam a prostituição, os que se corrompem e pregam a
corrupção, os que se regalam às custas dos cofres públicos, indiferentes à miséria que tem imperado no mundo.
 
Quem sabe haveria tempo hábil para nunca mais ouvir falar em armas, guerras e drogas, para nunca mais perder-se uma juventude inteira para os traficantes e poder ver crianças em paz, no aconchego de seus lares.
 
Um tempo para ver resgatada a dignidade da magistratura, da política, do magistério, da medicina, da ciência, da religião, dos meios de comunicação, pois a mídia é hoje o maior poder sobre a face da terra, e há anos que conduz o povo para onde quer, conforme seus interesses...e o tem conduzido à perdição com suas produções inconsequentes - verdadeiras aberrações -  e se me pedirem exemplos, não haveria espaço suficiente neste singelo texto.
 
Quem sabe em quarenta e dois anos e meio se possa falar em respeito, em temor a Deus, não porque Ele deva ser temido, mas porque Ele nos deu um jardim para morar e diretrizes para seguir.
E o que fizemos do nosso jardim?
E o que estivemos escolhendo para servir de nossas bússolas?
 
Meu amigo ... não sei se quero viver mais quarenta e dois anos e meio, mas se assim tiver que ser, que seja para ver instaurada uma nova ordem mundial,
que seja para ver a humanidade compreender que o Universo é regido por Leis exatas e justas e que não há transgressão, individual ou coletiva, que não retorne em forma de tremendas provações para a humanidade.
 
Se eu viver mais quarenta e dois anos e meio, por certo conhecerei batismos de dores individuais e coletivos ... mas quem sabe eu também não venha presenciar os albores de uma nova civilização?
Então terá valido a pena a existência centenária que, tão gentilmente, me
desejas. 
 
 
28.01.2011
Descalvado - SP



Fátima Irene Pinto
Enviado por Fátima Irene Pinto em 29/01/2011
Código do texto: T2759317
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