Mudança de hábitos e posturas

De vez em quando, pessoas de nossas relações fazem comentários, ou se referem a situações, atitudes, ou costumes que tínhamos há algum tempo, como se não fosse possível termo-nos modificado. Espantam-se diante de nossa mudança de postura, de havermos percebido que certas posturas deixam de ser adequadas com o passar do tempo, ou porque tenhamos percebido que não eram adequadas de forma alguma, em tempo algum.

Eu já não sou uma garota. Estou com mais de 60 e meus hábitos se modificaram, da minha juventude para cá.

Já não fumo, nem bebo. Quando me reúno com as mesmas pessoas que faziam parte das festinhas de algum tempo atrás, surpreendem-se por eu ter deixado esses vícios. Fazem algumas brincadeiras, tipo “tua religião não permite.”

Abandonei aqueles hábitos, bem antes de mudar a doutrina que professo. Abandonei-os, quando percebi que estavam abalando minha saúde.

É muito comum as pessoas de nosso círculo de convivência, não perceberem que mudamos, que coisas que achávamos divertidas, já não têm o mesmo significado para nós. Para alguns, isso nos transforma em pessoas chatas.

Tenho consciência de que me modifiquei muito, principalmente nos últimos cinco anos. Esse processo teve início há muito tempo. Houve um período longo, em que as mudanças foram lentas e sutis. Mas, como se despertasse, fui percebendo com mais clareza o que me convinha, dentro do que me é permitido. Lembro das palavras de São Paulo, na Epístola aos Coríntios: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas me convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam.”

Não sou santa, nem beata, nem carola, mas passei a me sentir melhor, mais leve, mais livre, desde que me afastei de meios que não me oferecem o que me convém, o que me faz sentir uma pessoa melhor.

Nesses últimos cinco anos, fiz amizades que prezo muito. Aos poucos, porém, houve um distanciamento gradativo que eu compreendo, exatamente pelas mudanças que ocorreram em mim. Assim como eu despertei para outros interesses, também essas pessoas que foram muito importantes para mim, no contexto de quando as encontrei, encontraram ou reencontraram motivos para seguirem seu caminho.

Na verdade, descobrir que pessoas que amamos não terem percebido que mudamos, que amadurecemos, me entristece. Tentamos nos tornar pessoas melhores, aproveitarmos bem o aprendizado que nossa jornada por esse plano nos oferece, para tornar melhor a convivência com essas pessoas e elas, muitas vezes, ainda nos ridicularizam.

E é assim e por isso, que muitos relacionamentos antigos e aparentemente estáveis, acabam. Simplesmente porque não nos olham, não nos escutam, não tentam nos conhecer. Pretendem manter a relação, sem aprofundar, ficando sempre só na superfície, na aparência. (29/10/06)