amor bluetooth

Ela caminhava pelo shopping num sábado a tarde na companhia de outras colegas. Trajes coloridos. Fala acelerada. Muito riso. Mal terminavam um pensamento já eram atravessadas por outras falas. Também todo o movimento do shopping entravam no movimento daqueles corpos falantes. Não havia qualquer suspeita naqueles sistemas comunicativos de que um dia pessoas de carne e osso passavam horas lendo, escrevendo, refletindo, sobre o próprio pensamento. Mas, para elas "pensar" era simplesmente falar, ou no máximo, se comunicar. Refletir seria o que uma imagem faz atrás do espelho. Se há algum vestígio de reflexão naquelas falas seria talvez para se autorreferir. Mas a autorreferência...de onde viria senão mesmo do outro? O eu viria do outro? Não seria uma coisa inata como um gen que traríamos em potência e que se desenvolveria conforme crescemos? Esse tipo de pergunta passava ao largo da cabeça daqueles jovens que funcionavam conforme os estimulos iam acontecendo e os conectando a outros estímulos que por sua fez acabavam numa rede de estímulos que pareciam fechar um circuito perfeito.

Um circuito perfeito....um circuito perfeito....

- Quem quer um pedaço da minha goma?

- Eca....que nojo...rsrs

- Guarde pro Claudinho...seu amorzinho....

- Sua vaca não fala assim...guardo se eu quiser....vai tomar no ...

- kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

- Gente..gente..pega lá..a camisa de força...

- kkkkkkkkkkkk.....kkkkkkkkkkkkkkkk.....kkkkkkkkkkkkkk....

Neste momento algo acontece transferindo esse esboço de tensão para qualquer outra coisa...e a turma volta a falar...falar...rir...falar...gritar...falar...gargalhar....

Duas delas se afastam um pouco do grupo, que havia acabado de se encontrar com outro grupo de amigos, e iniciaram uma conversa mais íntima. (não publicar...publicar...não publicar...publicar)

Carla contou pra Aninha que sentiu uma coisa esquesita quando passou perto de um rapaz, que estava na companhia de outro, olhando um cartaz no corredor do cinema, logo ali. Mostrou. Riram. Mas do que você fala. Como assim "coisa esquesita"? Boa? Riram...CLARO!! As duas voltaram um pouco e passaram perto dos rapazes, que vestiam uma roupa "descolada", mas, pareciam tímidos. Olhares...risos...sedução singela...brincadeiras...

Eu estava por ali por perto.

Sentado num café, observando.

Havia acabado de ler um artigo na revista Piaui.

Um pensamento me levou a minha infância...tão diferente daquilo...mas também igual...o que seria? o que será daqueles jóvens?

o que eu estou fazendo aqui, agora?

...a que se destina a vida tão efêmera, tão diversa e dinâmica dos ser humanos...que bobeira é isso que estou dizendo!?

por que esse título?