Reclamando da vida

O ser humano tem essa mania de reclamar. Resmungamos por coisinhas miúdas, muitas vezes sem importância diante de um mundo repleto de problemas bem maiores. Mas não estamos nem aí. Egocêntricos e individualistas, concentramos nossas atenções para a sujeira de nosso umbigo, enquanto o coração adoece.

Reclamamos da vida e das pessoas na medida em que elas não nos fornecem exatamente aquilo que almejamos. Somos detalhistas e cruéis em nossas próprias exigências. Queremos beleza, felicidade constante, realização plena. Custe o que custar. Doa a quem doer.

Reclamamos na cara, nas costas, justo ou injustamente. E, às vezes, nem sabemos bem do que estamos reclamando. Mas é costume. É hábito. Passar o dia sem reclamar não é coisa de gente normal!

Reclamamos muito mais dos outros do que de nós mesmos. Afinal, somos orgulhosos demais para aceitarmos nossas imperfeições e, então, colocamos a culpa na “droga da vida”, na inconformidade do destino ou na incompetência do fulano de tal.

E passamos o dia inteirinho blasfemando por aí. Se chegamos atrasados no trabalho, a culpa foi da esposa que escondeu a meia vermelha ou do maldito trânsito da cidade, e não por termos acordado a dez minutos atrás. E nosso tempo se resume no “puta que pariu”, “filho de uma mãe”, “que merda”, “ele vai me pagar”, “por que isso só acontece comigo?”.

Tornamos nossas manhãs, nossas tardes e nossas noites cada vez mais insuportáveis. E quando nos deparamos com alguém de bem com a vida, ficamos desconcertados. A alegria nos agride. A tranqüilidade nos intranqüiliza. A felicidade é o maior medo do ranzinza.

É aí que pensamos que temos pé frio, que o azar nos persegue e que as coisas só dão erradas para nós. É, fazemos de tudo para nossa vida não dar certo. Esquecemos o quanto a perturbamos e o quanto fazemos dela um caminho penoso e torturante.

Olhemos as coisas por um outro prisma, de uma outra forma, reclamando menos e agindo mais. Se a vida fosse só felicidade e acertos, reclamaríamos por ela ser perfeita demais. Mais alguma reclamação?

pann
Enviado por pann em 30/10/2006
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