Caipirinha

Para comemorar a sua nota e aliviar a tensão decorrente da avaliação resolveu beber. Como a noite estava bem quente, nada o impedia de apreciar a bebida, uma bela caipirinha gelada, a não ser que ainda precisava retornar à sala e assistir o restante da aula. Pediu uma dose e bebeu como se fosse água, seus colegas que o acompanhavam ficaram impressionados com a sede do indivíduo. Não satisfeito pediu ao balconista que fizesse mais uma, alegando que a ocasião sugeria isso, e mais uma vez em uma talagada esvaziou o copo. Seu corpo arrepiou-se por inteiro, e na mesma hora percebeu a merda que tinha feito, ainda tentou compensar o quase assassinato do seu fígado com dois salgados, porém já era tarde e só fez piorar a situação, naquele momento a única coisa a fazer era voltar à sala e tentar assistir o segundo módulo.

Subiu as escadas que levavam ao andar de sua sala com dificuldades, antes, entrou no banheiro e ao olhar-se no espelho quase não o reconheceu, cerrou os olhos umas três vezes para melhorar a visão e nada, molhou o rosto por diversas vezes e sentiu que o jeito era encarar a aula daquele jeito ou ir embora. Sobre o efeito etílico adentrou-se no recinto e querendo passar despercebido (como se pudesse) caminhou “rapidamente” em direção a sua carteira, o olhar fundo, o odor, e uma voz embargada denunciavam a quem quisesse o estado de embriaguez no qual o meliante se encontrava. Com muito esforço retirou o caderno de sua mochila e ao buscar o espaço destinado àquela disciplina percebeu que não conseguiria encontrar facilmente, pediu a colega ao lado que fizesse gentilmente esse favor, pois não sabia o porquê de não estar conseguindo achar o lugar correto. Com um sorriso sem graça, ela procurou e abriu em cima da carteira dele, com um bafo de caipirinha agradeceu a moça e aproveitou-se para insinuar-se para ela, deu duas piscadas e falou um gracejo que a deixou vermelha.

Naquela altura do campeonato, ainda não tinha percebido que estava atrapalhando a aula e que todos os presentes, inclusive o professor, o esperavam terminar com o barulho para que iniciasse a discussão sobre o tema exposto na aula anterior. Pediu desculpas a todos e no seu canto, já sem quase todos os sentidos, ficou a ouvir o que o professor falava, em dois momentos levantou a mão a fim de comentar algo e em ambos foi ignorado. Apesar de não estar nada bom, ainda podia discernir um pouco sobre o assunto em discussão e propôs também a participar do debate, que por sinal encontrava-se em profundo vazio com argumentos fracos, deixando o professor desanimado. Por mais duas vezes levantou a mão, já que não concordava com algumas das situações emitidas por outros colegas de sala, como tinha um bom raciocínio e a sua participação nas aulas em que envolviam debates era constante, tanto nesta disciplina quanto nas outras o professor, cansado de ouvir nada com nada, consentiu, desde que não se alongasse muito.

Antes de começar, tentou levantar-se, mas acabou não conseguindo, agradeceu a permissão do professor e dos seus colegas e pediu a autorização do professor para que pudesse fazer as suas considerações sentado (o que foi permitido) e em uma inspiração profunda, buscando oxigenar o seu cérebro, (e o seu fígado) iniciou a sua fala. Mesmo com sua voz alterada, pronunciava as suas ideias de maneira explícita. Rindo da situação e percebendo que o tempo dado àquele cidadão já estava excedendo, deixou que o infeliz continuasse a discorrer sobre o assunto já que vinha ao encontro ao qual o professor estava propondo. Quase trinta minutos depois de iniciar a sua fala, sempre com alguns intervalos, calou-se de repente e agradeceu pela paciência de todos.

O cidadão que a pouco tinha debatido de maneira consciente, entrou em um sono profundo. Sem saber como agir, já que um bêbado sem vergonha havia roubado a cena, sendo mais eloquente do que os outros “sóbrios” que ali estavam presentes, fez um breve comentário do que foi dito e deu por encerrado a aula. O bêbado sem saber do que estava ocorrendo foi acordado por seus colegas, e um pouco melhor, ainda foi vomitar no banheiro para que assim pudesse ir para casa.

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 07/02/2011
Código do texto: T2777456
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