Será que ele é?

Quando a namorada lhe fez a tal proposta, depois de mais uma transa, logo pensou na gelada que iria entrar caso aceitasse, titubeou por uns dois segundos antes de concordar (homem apaixonado!), e até tentou por alguns instantes convencer a própria namorada a adquirir o produto sugerido, mas acabou sendo vencido pelos argumentos. O problema agora estava em como comprar o produto sem chamar muito a atenção, afinal nunca havia comprado isto.

Uma semana havia se passado e nada de tomar coragem, ainda mais sabendo que aquilo também era procurado por outros “gêneros” do qual tinha certeza não fazer parte. Passava na frente do estabelecimento, parava, ameaçava de entrar e logo seguia o seu caminho, saia meio que apressado com medo de alguém encontrá-lo próximo dali e deduzir algo que não fosse muito favorável a sua pessoa. Como não tinha o hábito de cortar a barba, percebeu que desta maneira poderia estar sendo observado, e acabar confundindo-o com algum assaltante.

A namorada, sempre depois de mais uma transa, o lembrava do danado do produto e dizia que não iria liberar sem ele na mão, o problema é que a ansiedade já estava tomando conta, pois as insinuações de sua amada o deixavam cheios de fantasia e com muito mais vontade. E quando questionado o porquê de ainda não ter comprado, vinha com o argumento que o estranhariam e acabariam o chamando de algo que ele não é, e mesmo que se ela fosse junto com ele, poderiam falar que estava disfarçando para não mostrar a sua “verdadeira” identidade. Tudo era motivo para as suas conspirações. E isso só acabou quando ela o pressionou contra a parede e da forma mais direta possível:

- E por acaso você é...?

Isto foi o estopim para definitivamente ele se mexer e unir toda a coragem existente e finalmente enfrentar o desafio de entrar na loja. A sua primeira atitude foi fazer a barba e melhorar o visual, no dia fez questão de mudar o trajeto para não ter que passar em frente a loja, não queria ser visto a luz do dia por ali, se fosse para comprar seria no final do expediente, trabalhou o dia inteiro tenso, ensaiando a melhor maneira de ser o mais discreto possível na hora de efetuar a compra. Às 19h saiu do trabalho, a sua honra estava em jogo, afinal como uma mulher tem a audácia de duvidar de sua pessoa, não seria por causa de um negocinho besta que a sua pessoa seria posta em cheque, e, além disso, sabia dos prazeres que aquilo lhe proporcionaria mais a noite.

E no seu ímpeto saiu, passos apressados queria se livrar logo daquilo, um mês havia se passado desde que foi feito a proposta, antes de adentrar ainda olhou por duas vezes para os dois lados, queria certificar-se de que ninguém conhecido o veria entrando naquele ambiente. Entrou e ficou extasiado, nunca tinha entrado em um lugar tão exótico, foi ser atendido por uma pessoa bem “alegre”, e discretamente fez o pedido, do local não se mexeu, mesmo com a insistência do vendedor em querer lhe mostrar toda a loja e os fantásticos produtos. Calmamente fez um sinal de que não seria necessário, a não ser do “maledeto” do produto, o vendedor saiu em busca do desejado e constatando que não se encontrava mais na prateleira, “delicadamente” pediu ao estoquista que se encontrava do outro lado da loja que fosse buscar no estoque.

Todos olharam em sua direção, e o que ele menos queria acabou acontecendo, por um segundo foi o centro da atenção, ainda tentou disfarçar, olhando para o alto, mas todos já sabiam o que ele vinha comprar. Com o produto em mãos, pagou e agradeceu a atenção do vendedor, colocou no fundo do fundo de sua mochila, e saiu. Lá fora, respirou aliviado e feliz da missão cumprida. Mais uma vez olhou para os lados e saiu a passos largos para a casa da namorada. No caminho, contente, até que sorriu com o fato e se perguntou como poderia ter demorado tanto para comprar algo tão besta. Com o produto na mão, entregou a ela, que teve que cumprir o prometido. E já naquela conversa pós- transa, a namorada comentou:

- Tá vendo, vai dizer que precisava de todo esse tempo? Hoje em dia é normal comprar isso...

- Pois é você não vai acreditar, para se ter uma ideia nem na prateleira tinha, teve que buscar no estoque...

- E você com essa cisma de lhe confundirem com um...

- É mesmo né? Nem me olharam com aquele olhar de, hum sei não heim! Olha, são bem discretos...

...

- Como foram as suas vendas “querida”?

- Querido, mais ou menos, quem salvou o dia, foi um bofe, que foi comprar aquele produtinho que trago sempre, sabe? Todo bonitão... Hum sei não heim! Aquele ali não convence ninguém não...

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 08/02/2011
Código do texto: T2778998
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