Volta Zé Gotinha!

Todos os anos, Paulinho, quando ouvia sobre as campanhas de vacinação entrava em desespero, e quando se aproximava da época, aí o pânico tomava conta, suas pernas tremiam, o seu coração acelerava e o suor descia. Sabia, e muito bem, de todos os benefícios das vacinas, o problema estava da maneira como era aplicada, sempre por meio de injeções, ele detestava agulhas. Muito amigo de Zé Gotinha, lembrava com saudades do tempo em que apenas duas gotas bastavam. Aos cinco anos, junto com os seus coleguinhas, Paulinho era um dos líderes do movimento sem agulhas nas vacinas, e tinham como lema, o VOLTA ZÉ GOTINHA!

Sua mãe, sempre paciente, contava da época em que ela tomava as vacinas, onde as mesmas eram aplicadas por meio de um revólver, e doía pra chuchu. Mesmo assim, nada convencia Paulinho de que as agulhas eram necessárias nas vacinas, e em todas as campanhas ia arrastado, e principalmente protestando, até o local de vacinação, isso sob ameaças de todos os tipos vindos da mãe, que perdia as estribeiras com a birra do filho. Como a grande maioria das campanhas ocorria no sábado, Wanda tinha que acordar cedo para não enfrentar fila e claro tirar o Paulinho da cama, que por algum motivo sempre fingia estar doente. Era um Deus-nos-acuda!

Para a “sorte” de Paulinho, naquele ano, o governo resolveu intensificar o combate contra algumas doenças, e para isso lançou três campanhas de vacinação. Foi um alvoroço geral, nas “reuniões” do movimento, o assunto gerava polêmica, e após várias sugestões, ficou definido que iriam boicotar a última vacinação. As duas primeiras, sob fortes protestos, todos os integrantes do movimento tomaram as suas agulhadas, não tinha um que não saia com olhos lacrimejantes.

Mas a “vingança” estava armada, as mães que se preparassem porque o “bicho ia pegar” na terceira e última vacinação. E chegado o grande dia, todos resolveram dormir até mais tarde, e isso era só o começo do plano fenomenal elaborado pela turminha do VOLTA ZÉ GOTINHA! Na escola, onde geralmente ocorriam as vacinas, quando se encontraram, o resto do plano deu a sua cara, assim que soltaram-se das mãos das respectivas mães, foi um corre-corre generalizado, enfermeiras e mães, não sabiam o que fazer, gritos, chinelos voando, cinto na mão, nada impedia a criançada de executar até o fim o elaborado plano.

E o que era para terminar por volta do meio-dia, se estendeu até as quatro horas, finalmente tinham dado uma lição em todos (adultos desnaturados), exaustos, pouco se importaram que mesmo depois de tudo isso, ainda teriam que tomar as agulhadas. As mães ofegantes e as enfermeiras impacientes, não viam a hora de irem para as suas respectivas casas e descansarem, afinal tinha sido um dia atípico para todas. Então se formou uma coluna, filhos e mães (com as mãos bem apertadas nas deles), aos poucos foram se dirigindo até o local, para sacanear com a revolta, as enfermeiras decidiram (estrategicamente e com o aval das mães) mudar o local da aplicação, e cada um recebeu sua vacina em uma das coxas.

Como a dose era muito forte aos poucos uma perna de cada um foi paralisando paulatinamente, devido ao efeito da vacina, Paulinho foi o que mais sentiu, e nos cinco minutos finais, até chegar a sua casa, foi literalmente arrastando-se sobre a outra perna, não deu um pio durante todo o percurso e sua mãe, mesmo com dó (mãe é mãe), não conseguia disfarçar o riso no canto da boca. Extremamente cansado, já que nos últimos metros, não sentia mais a perna vacinada, tendo que arrastá-la até a casa, sentou-se no chão da sala. Sua mãe ainda o perguntou se estava bem, já que o esforço foi grande e parecia meio abatido, mas Paulinho querendo mostrar que não se entregava tão fácil, disse que estava tudo bem e só precisava de um copo com água, água essa que não conseguiria beber e enquanto Wanda ia até cozinha, Paulinho começou a ver tudo escuro e desmaiou.

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 08/02/2011
Código do texto: T2779000
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