Nós nos importamos com a verdade?

“toda a nossa ciência, comparada com a realidade, é primitiva e infantil, no entanto, é a coisa mais preciosa que temos” Albert Einstein.

A ciência não é a morada das dádivas do mundo, não é a única luz para as trevas da humanidade. Na verdade a nossa ciência é a mãe da talidomida, dos cfcs, agentes laranjas, gases que atacam o sistema nervo, da poluição do ar, da nossa agua, da extinção das espécies e indústrias tão eficazes que podem destruir todo o ecossistema terrestre.

É sabido que aproximadamente metade dos cientistas se dedicam a indústria militar (quem não se lembra das atrocidades dos médicos nazistas?). Embora vejamos os cientistas à parte do sistema, como alguém que surge para nos alertar sobre os perigos de novas tecnologias e a forma que a sociedade as utiliza, estes na maioria das vezes não passa de meros instrumentos, hipócritas e submissos a uma fonte lucrativa da indústria, não se importando de verdade com as consequências da aplicação dos seus conhecimentos no futuro.

A desigual relação entre os avanços da tecnologia e a falta de conhecimento das pessoas comuns, culmina na plausível desconfiança para com a ciência, talvez daí a imagem tão comum do cientista maluco que deseja dominar o mundo (vemos este exemplo no clássico o médico e o monstro ou em Frankenstein). Entretanto não é a ciência a responsável pela fraqueza moral de alguns técnicos ou pela ganancia dos políticos corruptos, ávidos de poder para assim decidir nos livrar dela e sanar os males da humanidade.

Os benefícios da ciência para com a humanidade justificam a sua preservação, como as vidas salvas com o progresso da medicina e o aumento da produção alimentícia com o uso de tecnologias na agricultura, isso sem falar nos campos dos transportes, comunicação entre outros.

A falta de conhecimento é serva de quem? Ao presumirmos que temos todo o saber e que somos a razão de tudo (universo), então a ciência é uma inimiga que nega a nossa presunção? Será que saber que o universo tem entre 8 bilhões e 15 bilhões de anos ao invés de 6 mil a 12 mil anos (soma das idade dos patriarcas e outra figuras da bíblia, que “nunca erra’) é mais satisfatório e tranquilizador? Ou será melhor compreender o universo como ele é, descobrindo que o nosso planeta é apenas um entre bilhões na galáxia e que somos uma combinação de átomos, em vez de um sopro divino.

Não há volta! Gostando ou não estamos ligados à ciência, portanto é imperioso que devamos tirar o máximo proveito desta situação. Ao descobrir e aliar-se a ciência traremos luz as nossos questionamentos práticos e espirituais. Cabe ressaltar que não devemos confundir a ciência com superstições ou pseudociências, que não traz respostas conclusivas, esquivando-se do exame cético e banalizando a experiência, estando baseada em evidencias tênues e insuficientes, na maior parte das vezes corroboradas pela conivência cínica dos veiculo de comunicação em massa, pouco preocupadas com a verdade, mas com o lucro imediato.

“O medo de coisas invisíveis é a semente natural daquilo que todo mundo, em seu íntimo chama de religião” Thomas Hobbes.

A maior parte das culturas humanas nos diz que o divino nos protege e que forças ocultas são responsáveis pelo mal, não importa quão fantástico sejam essas forças ou seres (do bem ou do mal), as pessoas se sentem melhor crendo nelas. Desde o mundo antigo de Hesíodo, passando por Sócrates, Platão, São Paulo (Efésios 6:14), Santo Agostinho, aos nossos dias temos exemplos deste sentimento. Os que acreditam nesses relatos tomam os elementos comuns em suas histórias como sinais de verossimilhança, e não como prova de que as histórias foram construídas a partir de uma cultura e biologia compartilhadas.

A mente crédula [...] experimenta um grande prazer em acreditar em coisas estranhas, e quanto mais estranhas forem, mas facilmente serão aceitas, mas nunca leva em consideração as coisas simples e plausíveis, pois todo mundo pode acreditar nelas. “Samuel Butler”

Podemos responder qual a diferença entre a teologia, a doutrina da nova era a xantista e a física quântica? Sim! Pois mesmo sem o homem comum a compreender, podemos verificar que a última funciona, não precisamos ser Ph.D. para ver com grande precisão o comportamento dos semicondutores, do hélio liquido e do magnetismo de certos materiais por exemplo), mas podemos verificar com alguma certeza os resultados das outras doutrinas? É fato, a maior parte das pessoas tem que aceitar os resultados científicos ou reconhecê-los através de um cientista, por falta de conhecimento especifico, entretanto a ciência está sempre aberta para quem deseja estudar e compreender os seus métodos, situação antagônica as outras doutrinas que ao serem questionadas veem sinais de maldade no coração. Se o mundo não satisfaz aos nossos desejos, é por culpa da ciência ou dos que nos desejam impor a sua vontade ao mundo?

Nos parece injusta a percepção que alguns morram antes de atingir a infância, ao passo que outros prosperem a vida toda, uns nascem em lares violentos, enquanto outros em berços luxuosos e harmônicos ou ainda alguns tem que conviver com deformidades físicas ou grupos étnicos hostilizados e depois morrer. Isso é tudo? Parece algo brutal sem propósito, teremos outra chance? A “primeira vida” será levada em consideração? As nossas vidas são como um jogo de dados viciados? Tais questões são levantadas para se justificar a vida espiritual após a morte. Assim essa idéia se torna um produto de fácil venda por algumas religiões. Fato é que alguns danos cerebrais podem mudar nossas lembranças ou transformar pessoas gentis em verdadeiros maníacos ou vice-versa ou ainda nos fazer ouvir a “voz de Deus”. Se quisermos, alma a encontraremos na matéria do cérebro. As pseudociências e as religiões não reconhecem os limites das leis da natureza, afirmando que “tudo é possível”, por mais que os seus adeptos sejam desapontados ou traídos.

Ao longo dos tempos a tentativa de conciliar a ciência com a religião sempre esteve em pauta, entretanto nesta emaranhada teia e em meio a um redemoinho de questionamentos e dogmas não foi possível à burocracia religiosa deixar de desconfiar da ciência que tenta responder certas questões como: A eucaristia é muito mais do que uma metáfora fecunda? E á carne de cristo? Uma química microscópica ou somente uma hóstia que o padre dá a um fiel? A oração funciona? Qual? Quando um fiel reza pedindo algo como o fim de uma doença (uma peste, praga em plantação) por que ele precisa rezar? Deus não sabia deste mal? Não tinha ciência deste mal aos seus fieis? A sua presença onipotente e onisciente só é manifestada proporcionalmente a reza dos fieis? Quase todos os egípcios pediam aos deuses que o faraó vivesse “para sempre”. As preces coletivas falharam?

Invariavelmente as religiões se pronunciam sobre a ciência, ainda que pouco testáveis ou involuntariamente, entretanto só aceitam questionamentos que não possam coagir a sua crença. Cabe oportunamente saber que o catolicismo romano moderno, acena positivamente, quanto ao Big Bang, a idade do universo e a evolução pré-biológica, ressalvando quanto a existência de uma alma para o homem. Na verdade, basta que a ciência possa provar que a idade do universo seja infinita, quando isso acontecer a teologia terá que ser reescrita, pois sendo este infinito, nunca teria sido criado, não havendo portanto um criador.

Em todos os casos, científicos ou religiosos melhor será nos aproximarmos o máximo possível da verdade e procurarmos uma perspectiva eficaz de aprender como os erros do passado, não se justificando de modo algum os medos das terríveis consequências do descobrimento dela.

Wagner Cabral