A MÁFIA DO PREÇO DAS PASSAGENS DE ÔNIBUS URBANOS

Quando chega fevereiro é sempre a mesma história: aumento exacerbado no valor das passagens de ônibus urbanos da cidade de Porto Alegre. A patifaria é tamanha, que este reajuste é feito no início de um mês em que a maioria das pessoas está de férias. A força idealista dos jovens ajudaria, em muito, a evitar este desrespeito com a população, que poderia tranquilamente ser categorizado como roubo. Entretanto, estes manifestantes, em potencial, estão desmobilizados por encontrarem-se fora do período escolar.

O valor da passagem, que já era elevado, passou de R$ 2,45 para R$ 2,70. Este aumento de R$ 0,25 implica em 10,2% de aumento no preço da passagem de ônibus.

Tomando como referência o aumento de 6,86% do salário mínimo, que passará de R$ 510,00 para R$ 545,00 em fevereiro, o aumento das passagens em 10,2% é novamente abusivo.

Entretanto, a inflação do ano de 2010 não passou de 5,9%, segundo os números fornecidos pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

Vergonhosamente, os empresários utilizam como massa de manobra os trabalhadores dos transportes rodoviários, para justificar o desmedido aumento, como se estes tivessem culpa de ganhar pouco. O aumento de 8% que a classe recebeu não está relacionado diretamente com o aumento de 10,2% que a tarifa sofreu. Se o salário mínimo aumentou 6,86%, o aumento real que os rodoviários tiveram foi de 1,14%, este pequeno percentual não implicaria nem em 0,5% dos 10,2% que a passagem recebeu. Pois o dinheiro que gera o percentual de aumento nas passagens não é repassado, na íntegra, ao rodoviário, devido a que ele é assalariado e não comissionado, como ardilosamente tentam nos convencer.

Ano após ano, este vergonhoso fenômeno se repete. A tarifa das passagens de ônibus aumenta 33% a mais do que o salário mínimo. O conveniente descaso dos nossos eleitos governantes e representantes ampara esta safadeza.

Em 1997, a tarifa da passagem de ônibus era de R$ 0,58; entretanto, o valor do dólar comercial correspondia a R$ 1,0426; consequentemente o valor da passagem correspondia a US$ 0,55 aproximadamente.

Hoje, no ano de 2011, o valor da passagem custa R$ 2,70; porém o dólar comercial vale R$ 1,66; isto nos dá como resultado que uma passagem de ônibus corresponde a US$ 1,62, aproximadamente.

Passados quatorze anos, a passagem de ônibus sofreu, em reais, um descomunal aumento de 366%. Entretanto o aumento percentual em dólar, também foi assustador, correspondeu a 195%, aproximadamente.

Caso estes abusos por parte dos empresários de ônibus continuem, associados ao descaso dos nossos eleitos governantes, chegará um dia em que será um verdadeiro luxo utilizar um ônibus como meio de transporte coletivo. Tentem imaginar o preço da passagem daqui a quatorze anos. Para realizar este cálculo, basta acrescentar 366% ao atual valor da tarifa de R$ 2,70.

O fantástico e absurdo resultado é de R$ 12,58.

Francamente, não existem palavras para desculpar isto!

Lamentavelmente, nós temos uma grande parcela de culpa nestes abusos realizados pela ambição desmedida dos empresários do transporte público. Cada setor da população é atacado isoladamente. Agora foi a vez dos usuários de ônibus, mas como isto não diz respeito aos produtores rurais e aos outros setores da sociedade, estes não se importam. Quando for a vez do produtor de leite reivindicar o aumento do preço do litro de leite produzido, isto não importará aos usuários de ônibus e aos outros setores, que também não se importarão com isto. E assim, sucessivamente.

Indefectivelmente, cada setor da sociedade forma parte de um todo. Qualquer efeito que um destes setores sofra repercutirá, diretamente, nos outros. Torna-se indispensável que entendamos isto, do contrário estas cruéis injustiças se multiplicarão de forma geométrica no bolso do, tão massacrado, contribuinte.

Além disto, continuamos elegendo pessoas para ocuparem cargos públicos, visivelmente comprometidas com o poder e com elas mesmas, do que conosco, o povo, que os elegemos.

A corrupção tem rostos diferentes e muitos nomes. No Egito, responde ao nome de Hosni Mubarak; entretanto, aqui se apresenta como uma “redentora” democracia e os nomes são muitos e de turno.

Até quando e quanto suportaremos?

A escravidão continua!

A impotência dói!

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