DA LUZ DA LUA À LUZ ELÉTRICA

(Série Minhas Histórias)

 

Cá estou eu a recordar a minha Macondo... Cheiro de mato, refrescantes banhos de rio e à noite, uma lua maravilhosa prateando as pastagens do morro que se levantava à nossa frente.

No início era assim...

Energia elétrica? Era um luxo que nem sonhávamos desfrutar, mas tudo era tão lindo, tão mágico!...

Nas noites de lua cheia sentávamos na calçada e nos deleitávamos ouvindo “causos” e “estórias”, contadas pelos “mais velhos”.

No interior da casa, pequenos lampiões a querosene, os famosos “candeeiros”, sempre com uma caixa de fósforos ao lado, ficavam à nossa disposição, enquanto um ALADIM, (assim chamávamos a luminária imponente que irradiava luz forte semelhante a uma lâmpada fluorescente) iluminava as salas e outro atraía fregueses para o armazém.

                                              

  

O querosene também era usado para fazer funcionar a geladeira.

Algum tempo depois apareceu o “PIB GÁS” e até hoje eu não sei se esse era o nome da empresa fornecedora ou da engenhoca que acendia as lamparinas instaladas nas paredes. Era o gás de cozinha substituindo “o querosene”. Papai colocou uma dessas lanternas na entrada de casa, o que iluminava uma extensa faixa da rua e no “terreiro”,(quem já morou em interior, sabe o que é) brincávamos de roda, amarelinha, peteca, pega-pega, pulávamos corda e tantas outras que a saudade me faz lembrar.

Nessa ocasião a nossa geladeira passou a funcionar com gás de cozinha.

Trinta minutos antes de apagar a luz, papai dava um sinal fechando e abrindo a válvula que controlava a intensidade da luz. Todos que circulavam pelos arredores cuidavam de retornar às suas casas. Quinze minutos depois, outro sinal alertava algum incauto que ia escurecer e na terceira vez, a luz enfim era apagada. Se não era noite de lua cheia, que maravilha! Brilhando mesmo, só as estrelas no céu e os pirilampos na mata.

E a lua foi ficando esquecida...

O rádio, como já falei em outra história, funcionava com pilhas (muitas) e enfim chegou para nós a TV ligada a uma bateria de automóvel. A imagem? Só sombras, mas quando tínhamos sorte, o vento trazia o sinal e conseguíamos vislumbrar alguma coisa.

E o progresso foi chegando. Tivemos um gerador, inicialmente movido a gasolina, depois a óleo diesel, que substituiu o “PIB GÁS” e em lugar das lamparinas, surgiram lâmpadas e fios elétricos em todos os cômodos da casa.

Finalmente chegou a “luz elétrica”. No início, instalada somente nas ruas e o transformador era desligado às 22 horas. Mais adiante, passou a ser distribuída entre as residências e então a TV e o rádio tornaram-se algo mais democrático por lá.

Por essa ocasião, eu já estudava na “cidade grande” e continuava apaixonada pelas minhas férias naquele lugarejo, mas, depois do advento da “luz elétrica” tudo ficou diferente. As noites de lua cheia ouvindo “causos” e “estórias” na calçada e as animadas brincadeiras foram substituídas pelas novelas da televisão e pelas pequenas reuniões ao pé de uma “radiola” onde a estrela era o Long Play de vinil.

E desde então, minha Macondo nunca mais foi a mesma! Mas isso é assunto para outra história.

 

Fátima Almeida
 

Fátima Almeida
Enviado por Fátima Almeida em 12/02/2011
Reeditado em 14/01/2012
Código do texto: T2788423
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