NÓS E AS MUDANÇAS

Moro no mesmo endereço há quase trinta anos. Minha casa fica em uma rua estreita e sem saída. Entretanto, tudo o mais está bem diferente.

Hoje nada faz lembrar as casinhas amarelas sem muros de outrora. Os folguedos infantis ficaram lá longe como a nossa própria infância. Ah, como fazem falta as crianças com a sua alegria contagiante, suas descobertas e as suas artes!

Aos poucos muitos moradores foram se mudando, e outros partindo dessa pra melhor, e os que restaram foram envelhecendo junto com a rua. E uma rua envelhecida é uma rua triste.

Moro no mesmo endereço há quase trinta anos, porém, já não sou mais aquele menino briguento que soltava palavrões e chegava da escola com o uniforme imundo faltando um ou dois botões da camisa. Não creio mais em super-heróis, apenas em atos que podem tornar-nos um herói.

Vi coisas e pessoas se modificarem ao meu redor e sem dar-me conta disso, eu também fui me transformando. Oh! Minha barba cresceu.

Vi a paixão surgir, mas bem rápido vi-a fugir. Então pela primeira vez chorei, não como uma criança que tem o seu brinquedo quebrado, chorei como homem que vê o seu amor se afastar. Mas de um modo geral as mudanças tanto físicas quanto psicológicas pelas quais passei vieram para melhor.

Nesses quase trinta anos minha rua não mudou quase nada, somente um amontoado de casas reformadas. Fomos nós (os moradores) quem com efeito, mudamos.

Aos 20 anos é comum pensarmos "bobagem, nunca vou mudar minha maneira de pensar". Entretanto, acredite, você vai mudar graças às lições que a vida ensina e mesmo que não aprenda nada, ainda assim você vai mudar porque as mudanças são uma exigência da passagem do tempo. E aqui vai um alerta: quanto maior o tempo em que permaneça estacionado, maiores serão os prejuizos a recuperar depois.

Que bom que as ruas, cidades, pessoas e as sociedades mudam. Do contrário, a dor também seria um estado permanente.